segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Bukowski e o cinema

Pachá
O velho safadão nunca escondeu a sua indiferença pelas histórias em movimentos, o cinema. Bukowski via no cinema uma tentativa malfadada de contar uma história. Mas mesmo ele não passaria incólume a sétima arte e em 1981 Marcos Ferreri transforma em filme o primeiro volume da série “Ereções, Ejaculações e Exibicionismo”  Crônicas de um amor Louco, e tenta captar o inferno onírico do velho Buk. É bom ressaltar que o filme foi baseado em um dos contos desse volume, “A Mulher mais Linda da Cidade” que narra o romance de Serking (um dos alter egos de Bukowski) vivido por Ben Gazzara com uma linda, exótica e suicida prostituta Cass (Ornella Muti).

Este filme é considerado um dos grandes representantes do Cult-movie dos anos 80, em minha opinião o filme ficou muito poético e peca em retratar o universo de Bukowski, a sarjeta, bares, bêbados e toda massa de excluídos da América, mais precisamente Los Angels., mas que não desagrada enquanto entretenimento, principalmente para aqueles  não iniciados na obra de Buk. Fotograficamente o longa de Ferreri é deslumbrante, com paletas de cores que lembram os pintores impressionistas, e a narrativa também é muito bem construída, com dramas verossímeis  e bem ambientado.

Em 1987 Barbet Schroeder leva para as telas um romance de Bukowski feito exclusivamente para o cinema, Hollywood que chegou aos cinemas com o título Barfly, aqui no Brasil, Barfly condenados pelo vicio, terrível não. Esse ao contrario de Crônicas de um Amor Louco, o próprio Bukowski, contra sua vontade, ajudou a escrever o roteiro e fez uma pequena ponta, como um bêbado é claro.

No elenco temos Mikey Rourke, ainda com rosto de galã, vivendo o mais conhecido alter ego de Bukowski, Henry Chinaski, que na maior parte do tempo é um alcoólatra e na outra um escritor que tenta sobrevive na cidade dos anjos. Em uma de suas bebedeiras ele conhece Wanda, com W maiúsculo, interpretado pela ótima Faye Dunaway, uma alcoólatra em tempo integral que vive as custa de um amante, que a ajuda mais por piedade do que por amor. Embora o filme tenha recebidos criticas negativas, em minha opinião a atmosfera criada por Schroeder é mais próxima do universo Bukowsvikiano e Mikey Rourke se sai bem na pele do alcoólatra e degradado escritor e faz ótima parceria com Faye Dunaway.

Em 2005 mais um filme leva as telas histórias de Buk e o diretor norueguês Bent Hamer filma Factótum que retrata o período em que Bukowski frequentou aulas de jornalismo na faculdade e decidi se tornar escritor, mas para isso tinha que ter um oficio que patrocinasse sua verdadeira vocação e ai o que se tem é uma série de empregos ordinários onde o Chinaski assassina o melhor de suas horas.

O filme é estrelado por Matt Dillon no papel de Henry Chinaski, convence, mas sua carinha de galã, limpinho em camisas brancas causa um certo contraste com a visão que tenho de Chinaski nesse livro. Lili Taylor vive a companheira de Chinaski, Jan, beberrona, ninfomaníaca, dá um show de veracidade ao personagem bem ao estilo Bukowsvikiano. Outra que está muito bem no elenco e a gatinha Marisa Tomei no papel de uma striper que divide a cama com Chinaski. A primeira vez em que assisti a esse filme fiquei decepcionado, mas depois, ao assistir novamente, vi que se trata de uma das melhores adaptação de Buk.

Tales of Ordinary Madness - 1981 
Ben Gazzra e Ornella Muti fazem um improvável e estranho casal. 
O filme tem cores opressoras e clima tenso de tragédia iminente, bem ao estilo neo-realista italiano, embora creio que não tenha sido esta a intenção do diretor que tem a preocupação de dar um tom mais poético aos excluídos e perdidos indivíduos que tentam sobreviver em um mundo duro e impiedoso.




Barfly - 1987
Dessa experiência surgiu um livro, Hollywood no qual Buk conta sua experiência com o cinema.

O filme teve muitos percalços é quase se tornou inviável, mas por fim conseguiu chegar as telas. Ao contrário de Ferreri, Schroeder imprime um clima de sarjeta, bares, decadência dos indivíduos falho diante do capitalismo americano, e ninguém viveu isso melhor do que o velho safadão.

Não há visão poética e sim os meios para se chegar até o dia seguinte e ao próximo bar, a próxima rodada.
 
Rourke sofreu criticas do próprio Bukowski, era muito bonito, cabeleira pavoneada, certamente o que Chinaski sempre odiava em alguns tipos.





Factótum - 2005
Chinaski entre um trago, uma foda e empregos ordinários tenta se fincar como escritor. Jan, sua companheira, Lili Taylor, rouba cena como uma perfeita mulher de verdade, ao estilo Amélia de Mario Logo, mas ela luta pelo seu homem sem abrir mão de seu estilo, que se foda tudo... Seus diálogos são ácidos e duros como as falas de Buk.



Hamer dá ao filme um ritmo lento e destrutivo a medida que os personagem vão se degradando que fica muito convincente com a fotografia em tons amarelados desesperançoso.

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