Por Pachá
Guardando as devidas diferenças entre historia e narrativa literária, onde a primeira tem no fato, no documento, método de pesquisa e autenticidade o compromisso em comprovar o que se pretende. Para o literato não há esse intento, seu compromisso é tão somente com a estética, mas isso não impede de afirmamos que literatura é construtora de identidade. E analisando a obra de Lima Barreto é essa conclusão que fica.
Em Numa e a Ninfa Barreto traça aguçado olhar para sistema de governo do Brasil, a república. Deodoro da Fonseca que era amigo do imperador certamente não tinha intenção de proclamá-la, mas as circunstancias do momento o impeliu para tal; ascendência de elite econômica fundeada na cafeicultura (em seria crise), decadência da cultura açucareira e suas oligarquias, anseio por efetiva descentralização do poder que possibilitasse autonomia as províncias na administração de seus recursos; atuação da classe média emergente aliada a classe militar na defesa de seus interesses (igualdade jurídica e meritocracia; participação política); são para citar alguns dos elementos que empurrou o Brasil a Proclamação da República. E Lima Barreto aponta grande lupa nesses fatores, ainda que de forma sutil, consegue extrair de forma cômica até, os despautérios que marcaram essa transição, império para republica e sua manutenção. Bom frisar que o livro foi publicado em 1915, vinte seis anos após proclamação da republica, ou seja, os fatos estavam frescos e vivos na lembrança. E a partir destes é possível entender como hoje o Brasil funciona, gatunagem, malandragem, ladroagem, nepotismo, despotismo se transformou em determinismo cultural no país. Guardando as diferenças cronológicas, é possível colocar o romance de Lima Barreto no contexto atual, pois parece que pouco mudou de lá pra cá.
Livro obrigatório para quem procura entender o Brasil e seus costumes no periodo da república, bem como excelente romance.
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