domingo, 20 de janeiro de 2013

Familias Terrivelmente Felizes

Por Pachá
Reunião de contos de Marçal Aquino escrito entre os anos 80 até inicio do séc. XXI. Aquino deita olhar melancólico sobre relações amorosas com putas, bandidos e outros excluídos da sociedade brasileira com escrita ora ácida, ora esperançosa, mas que no fundo não esconde o imenso desafio que é viver. E se o cigarro mata, viver também mata como bem pensa um dos tantos personagens. Em suas especulações existências sobra angustia e falta coragem para abandonar tudo, o emprego cretino, a mulher enfadonha, a vidinha besta. Com despretensiosa narrativa Aquino cria universos inusitados, mas com imenso senso de realidade. O servente de obra que casa com a puta da capital e retorna para o interior, o matador que come a mulher do patrão negligenciando as conseqüências fatais. Mas seja como for seus personagens não estão isentos das tragédias do dia-a-dia, eles são agentes e catalisadores desse intrigado flash de tempo que nos vara enquanto caminhamos, respiramos sobre a face desse planeta. E se o oficio de viver pesa, esmagando sonhos e desejos, nos dizendo que não há fuga desse teatro, falta coragem para dar cabo com dignidade desse suplicio. E assim são os personagens do universo aquiniano, imponentes diante do nada que os devoram apenas aguardando o próximo cigarro, a próxima foda, um câncer, uma bala.

No universo aquiniano não há bom e o mau, há sim a violência imperativa, urgente onde a vilania e solidariedade não são faces de uma mesma moeda. E se lhe falta realismo no aprofundamento de ambientes e personagens, é porque a violência também é invisível mesmo naqueles que julgamos de coração puro. E por violência vale, omissão, conivência, covardia.

No avançar das páginas é possível notar que o estilo de Marçal se mantém fiel a estrutura limpa sem muitos floreios, pouco uso de elipses ou mesmo a não linearidade, fragmentada muito trabalhada em obras posteriores, como o invasor e cabeça a prêmio. A percepção que se tem ao debruçar sobre a escrita de Marçal é que seu estilo em muito lembra Graciliano Ramos para quem as palavra não era para enfeitar e sim para dizer. Como sou fã incondicional do estilo Graciliano os livros de Marçal são visitação prazerosa a aquele que em minha opinião é o maior escritor brasileiro.

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