segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Nocturnal Animals


Por Pachá
O segundo longa do estilista Tom Ford é particularmente marcante pelo esmero de direção e fotografia. O roteiro também escrito por Tom Ford é uma adaptação do livro Tony and Susan publicado em 1993 do escritor Austin Wright, considerado pelos editores como a mais impressionante obra de ficção desde Revolutionary Roads de Richards Yates.

Susan (Amy Adams) proprietária de uma galeria de arte parece viver uma crise existencial e matrimonial, as convicções do passado se diluíram com passar dos anos e tudo que restou foi uma besta falta do que viver. Seu ar blasé de decadance avec elegance é quebrado quando recebe manuscrito de seu primeiro marido, Edward (Jake Gyllenhaal). O livro aos poucos vai abrindo pequena fratura em seu mundo a margem da realidade, pois os ignorantes não sentem dor. A medida que ela mergulha na leitura, revisita ao passado com a certeza de futuro já comprometido.

Em devidas proporções, os personagens de Susan e do livro que ela esta lendo, são fragmentados, fraturados a beira de um abismo de magoas, arrependimentos e solidão. Enquanto a vida de Susan é rodeada pela futilidade da arte mercantilizada e banal destituída de sua principal função, interpretadora e modeladora de realidade. O livro lhe injeta doses cavalares de realidade, de punção de morte, do belo e sublime. O personagem Tony (Jake Gyllenhaal) tem sua vida desviada com trágico desfecho em despretenciosa viagem a casa de veraneio. Sua fragilidade se confunde com a fraqueza de Edward a qual, disfarçadamente, Susan utilizou como pretexto para deixa-lo. A Susan do passado e do presente se confrontam a medida que ela avança na leitura.

As interpretações são deleites a parte, o convincente e cada vez mais versátil Jake Gyllenhaal está irretocável em ambos os personagens, Tony e Edward. A trama ainda conta com Michael Shannon em uma ótima performance, o personagem mais desesperançoso da trama, mas sem cair em clichês piegas. E a grande surpresa fica por conta de Aaron Taylor o kick Ass. Amy Admas esta a vontade em papel de menina rica cheia de ideias e depois amargurada esposa diante das escolhas feitas no passado. Seu ar blasé diante da falência do marido, da arte que nada lhe diz, da funcionária em indumentária extravagante com discurso consumista. Eu já apreciava muito seu trabalho em Sunshine Cleaning 2002 e American Hustler 2013. Ela é o rosto da vez de Hollywood, e não só pela beleza, mas pelo talento.

O esmero da fotografia não passa despercebido, Seamus McGarvey que transita por filmes de arte e comerciais, cria interessante atmosfera onde ressalta o luxo, mesmo em cenas onde este não esta presente. As composições são trabalhadas, tanto no posicionamento de câmera como no que é colocado em cena. A impressão é que tudo tem um significado, mesmo que não seja tarefa fácil  para o telespectador identifica-los. O que se explica pelo olhar do estilista, esteta do diretor que entende o peso dos detalhes.



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