Por Pachá
Bubby (Nicholas Hope) viveu até os 30 anos com sua mãe em um minúsculo quarto em um bairro industrial da Australia sem nunca ter cruzado a porta da rua, pois sua mãe dizia que o ar lá fora era venenoso, "e se o veneno não matar, Deus o fará".
Bad Boy Bobby não carrega o mistério ou refinamento de O Enigma de Kaspar Hauser 1974, de Herzog, mas tem em comum o olhar antropológico do ser humano enquanto ser social, a final, somos ser humano somente quando observamos outros humanos, e nesse ponto Bad Boy Bubby é radical, cru, doentio pois os humanos em que Bubby se espelha, sua mãe, e em seguida o pai desaparecido desde o seu nascimento, são os seres a margem da sociedade, são a "classe perigosa", e portanto um péssimo exemplo de ética e moral. Bubby tem a inocência de uma criança e a pureza dos animais.
A rotina de mãe e filho é alterado quando o pai retorna, e na mais clássica tragédia grega, Bubby assassina os pais e foge para o mundo exterior, e este é tão doente e envenenado que Bubby se convence, sua mãe já o dizia, que ele não combina com esse mundo. Aos poucos Bubby vai se entregando aos pequenos vícios que dão lastro para a vida, e nessa trajetória vivência algumas situações que confere ton cômico e non sense a trama, mas que não são isentas de reflexões a cerca da condição humana no seu instinto mais básico. As situações vividas por Bubby, integrante de uma banda, contato com um ateu capitalista, sexo com uma integrante do exército da salvação vai moldando o mundo ao seu redor e a experiência mais arrebatadora, a música, confirma o poder da arte, de não só interpretar mas moldar esse "novo" mundo.
A trajetória de Bubby é uma critica a humanidade como responsável direta por um sociedade doente, perversa que falha não só com nosso habitat natural, o planeta Terra, mas como espécie humana. A cena de um sujeito cortando uma árvore que cresce em uma calçada e os jovens matando um gato, em minha percepção carrega todo esse simbolismo que é coroado pelo discurso de Angel, ao dizer que não importa o quanto as pessoas sejam ruins, elas estão condenadas mesmo a morrer de câncer e doenças respiratória pelos detritos despejados na atmosfera. O mais interessante é que Rolf de Heer coloca isso de forma muito sutil, cômica até bem ao estilo humor inglês.
A fotografia é exuberante, carrega uma fotometria mais que correta e cores fortes e contrastadas realçada pelos grãos da película conferindo uma nitidez bem diferente do digital.
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