Por Pachá
Os esforços para se encaixar em grupos sociais e se sentir parte de algo é uma das características dos sapiens. Evoluímos enquanto espécie justamente por essa capacidade de se organizar em sociedade e com isso controlar nossas pulsões de morte.
Maud (Morfydd Clark) é uma enfermeira devota e dedicada a sua paciente Amanda (Jennifer Ehle). Maud acredita que foi escolhida por Deus para preparar Amanda em sua passagem. A rotina de Maud é pautada nos conflitos entre desejo, salvação e auto flagelação. Enquanto Amanda, uma artista e atéia, espera a morte, Maud sofre por possuir uma visão do mundo própria dos fanáticos religiosos, e essa alegoria é a premissa explorada pela narrativa em um ciclo perigoso de horror, se por um lado Maud procura abrigo e conforto na religião, por outro essa serve como justificativa para cometer atos terríveis, afinal, em nome de Deus e o amor, os sapiens vem cometendo atrocidades contra seus semelhantes.
A atuação de Morfydd Clark é muito boa e encarna uma personagem cuja narração de sua própria realidade é fruto de uma mente em processo de danos "irreversíveis". Os demais personagens servem para contrapor essa realidade e não deixar qualquer dúvida quanto a realidade de Maud.
A atmosfera criada segue a risca a estética que está definindo a produtora A24, que mesmo quando não tem qualquer interferência na construção da narrativa, aposta em tramas de estranhamento, de horror psicológico. A fotografia de Ben Fordesman é muito atraente no sentido de criar uma áurea de estranhamento, com ângulos e iluminação que amplifica os conflitos internos da Maud.
Saint Maud é um exemplo de como a incapacidade de interação social e consequente solidão pode empurra um individuo para o abismo, cuja salvação é a aceitação dessa realidade, e a morte um deleite.
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