Os heróis ou heroínas, estas mais predominantes no cinema de Ainouz, encarnam o desconforto em um mundo em que não se encaixam, decantando um sofrimento misto de resignação e resiliência.
Baseado no romance de Martha Batalha, que narra a história de duas irmãs Eurídice (Carol Duarte) que vive a sombra daquilo que poderia ter sido, um ser em expansão mas contida pelas paredes das convenções sociais e Guida (Julia Stockler) que embora tenha senso prático de uma mulher dos anos 50, sofre pelas suas escolhas, e ambas amargam o desencontro.
A fotografia de Heléne Louvart, é pouco ousada, é contida como os protagonistas, mas em conjunto com a direção de arte criar uma atmosfera nostálgica e trágica. Particularmente me incomoda seu uso, quase excessivo, de janelas e fundos com luzes estouradas.
Para quem leu o romance de estréia de Martha Batalha, fica com a estranheza de alguns personagens, Antenor (Gregório Duviver), tem interpretação fraca, apática, ao passo que a dupla Carol e Julia parecem mais entrosadas, mais intensas. A história, ao contrário do livro, parece focar mais na vida de Guida, mas creio que pela interpretação de Julia, de longe a melhor atuação do filme. Filomena (Barbara Santos) ganha as cenas quando aparece. A participação de Fernanda Montenegro como Eurídice mais velha, fecha o filme, e traz o triunfo da resiliência diante dos augúrios da vida.
Foi o filme brasileiro indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, concorrendo com Dor e Glória de Almodóvar.
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