Por Pachá
Tarkovski que é filho do poeta Arseny Tarkovsky, se considerava mais um poeta do que um diretor, ele também relata que só se considerou verdadeiramente um cineasta quando fez A Infância de Ivan. E até esse ponto, ele acreditava que o cinema nada tinha a ver com sua vida. No Instituto Estatal de Cinema eles não assistiam a filmes, pois se acreditava que os alunos ficariam impregnados de vícios ou visão equivocadas do que é fazer cinema...a influência nociva do Ocidente.
Esculpir o tempo foi escrito a partir de uma insatisfação com as teorias que norteavam o cinema naquele momento.
"Percebi que, em geral, o reconhecimento dos princípios da minha profissão dava-em mim através do questionamento das teorias estabelecidas e do desejo de expressar a minha própria compreensão dos princípios fundamentais da arte que se tornou uma parte de minha pessoa"
Tarkovski tinha plena convicção de que a arte é o meio pelo qual o ser humano alcança sua plenitude espiritual, e isso é bastante presente em suas obras, dado a sua criação e crenças cristãs. Assim como é explicado por ele a falta de símbolos em seus filmes, ele diz que não usa simbologia, a chuva em seus filmes significa chuva pois em sua terra natal, as chuvas duravam dias, e portanto fazia parte da vida, e é isso que ele tenta e se esforça para captar em seus filmes, a vida, o belo e o sublime e a poesia contida nos instantes mais comuns da existência. O cinema para Tarkovski é o meio para explorar os problemas mais complexos do nosso tempo.
"arte é preparar a pessoa para morte.."
Há um critica feroz ao cinema comercial, ele diz não entender como há uma explicita preferência ao lixo comercial ao invés de Morangos Silvestres de Bergman ou O Eclipse de Antonioni...
Truffaut responde..." a função primeira do cinema é o entretenimento"
E Tarkovski replica...
"Não sou artista de salão, não cabe a mim manter o público feliz"
As impressões de sua arte e os caminhos destas, são a prova de que o ser é fruto de seu tempo, e suas criticas a vanguarda, a arte e artistas que produzem arte destituído de sentido é a decadência do mundo contemporâneo e a morte do próprio cinema enquanto arte. Para Tarkovski o tempo inexoravelmente vai expor o vazio de uma obra que, cuja expressão, não contenha uma visão única e pessoal do mundo.
A impressão que fica ao terminar o livro é que pairava certa dúvida quanto a caminho ser trilhado pelo diretor enquanto artista, e entender esse processo era o mais fundamental para Tarkovski. O cinema como qualquer arte sofre os impactos tecnológicos, esta transforma e molda sociedades, e fiquei com essa impressão quando ele, Tarkovski, diz abominar a montagem em que há divisão de tela (split screen) na qual mostra coisas simultaneamente acontecendo, ou mesmo a vanguarda. O livro foi publicado em 1984, e como mesmo deixa claro o autor, ele não foi escrito em um único momento, e sim com intervalos de tempo, o que ele pede perdão pela falta de unidade nos pensamentos. E certamente foi finalizado quando o autor residia em Paris, onde veio a falecer em 1986. Lembrando que nesse período o socialismo soviético sucumbia diante do inexorável avanço do capitalismo, e sem dúvida isso, de uma forma ou outra, afetou arte e artistas que nasceram e cresceram naquele regime.
Parte 2 de 2
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