quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Cria Cuevos 1976


Por Pachá
O olhar da atriz mirim, Ana Torrent, é cativante ao mesmo tempo em que de uma melancolia profunda, e sua expressão nos remete ao ator de les quatre cent coups, Jean-Pierre Léaud.

Saura se baseia em um ditado espanhol de que quem cria corvos tem por estes os olhos arrancados. E mesmo não abordando diretamente o tema político e sua critica ao governo franquista, é possível ver nesta metáfora uma subliminar mensagem.

Ana é uma criança que ainda na infância sofre a perda de sua mãe e logo em seguida o pai. Ana acompanha o sofrimento de sua mãe, mulher apaixonada pelo marido, um militar de alta patente do governo Franco que não muito afeito a fidelidade, trai a mãe de Ana até com as empregadas da casa. Ana assiste sem muito entender o sofrimento, convalescimento e morte de sua mãe. O ambiente familiar marcado pelas constantes brigas de ciúme, agora perde todo calor, coesão visto que a mãe era esse elo.

O Pai viúvo continua suas estripulias sexuais, agora sem nenhuma repreensão e em uma de suas aventuras na própria casa, presenciada em parte por Ana, o pai falece no ato, em cima de sua amante creio estar nessa cena a subliminar mensagem a queda do forte, assim como Franco. Saura a exemplo de Bergman cria uma narrativa dúbia, de pesar e magia nos momentos remontados pelas lembranças que Ana possui dos momentos em família.

Cria Cuervos é de uma inocente poesia, da infância perdida entre atos muitas vezes mesquinhos do universo adulto. O elenco conta com a habitual participação de Geraldine Chaplin, filha de Charlie Chaplin, Geraldine é um dos casos de parecerias no cinema que perduraram por muitos filmes, ela é figura sempre presente nos filmes de Saura. E no papel de mãe de Ana e mais tarde a própria Ana já adulta. Geraldine passa com carisma e empatia o estado de sofrimento e alegria de estar apaixonada. Outro ponto forte do filme é a canção tema, “Por que te vas” de Jeanette que aliada a cenas bem trabalhadas e o olhar enigmático, inocente e melancólico de Ana é de derreter os corações mais petrificados. Em sua participação em Cannes Cria Cuevos arrebatou o prêmio do grande júri e por pouco não levou a palma de ouro.

Geraldine Chaplin ... Ana adulta e a mãe
Mónica Randall ... Paulina
Florinda Chico ... Rosa
Ana Torrent ... Ana criança
Héctor Alterio ... Anselmo (o pai)
Germán Cobos ... Nicolás Garontes
Mirta Miller ... Amelia Garontes
Josefina Díaz ... Avó
Conchita Pérez ... Irene
Juan Sánchez Almendros...
Mayte Sanchez ... Juana



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