Por Pachá
Filmes onde as imagens querem dizer muito mais do que o que realmente são, sempre me pareceu discurso ou debates de salas obscuras de curso de filosofia da USP. E, por conseguinte tenho uma tendência incontrolável de achar esses filmes pretensiosos quando direcionando para um público específico.
O Teorema de Pasolini é um desses filmes, a obra máxima desse diretor, escritor e filosofo é um discurso da degradação da família burguesa. O inicio do filme há uma espécie de entrevista, na verdade é o final do filme, onde é discutida a descentralização de poder quando um empresário decide transformar os operários em pequenos acionistas, a esse processo temos o nome de autogestão, que primeiro foi experimentado na Iugoslávia de Tito. Até ai é “claro” para o espectador a intenção do roteiro e a mensagem do diretor, que adianta o tema; a crise estrutural do capital. O capital tem no elemento sócio-reprodutivo a família. E esta quando tem os valores de solidariedade, de bem estar social deturpados por valores mercantis, cria o colapso no próprio capitalismo, segundo Webber/Max.
O filme o teorema retrata a monotonia de uma família burguesa italiana nos inícios dos anos 70, período esse em que sistema capitalista dá sinais de estagnação do ponto de vista sociológico; diretos da mulher, crises de identidade decorrente da juventude, estagnação estas que vão refletir na estética, na cultura e política. A chegada de um estranho vivido pelo ator Terence Stamp, muda a monótona e vazia existência dos integrantes dessa família, inclusive a empregada, esta representa o proletariado. Este estranho age como um catalisador para a degradação que se consumará com sua partida. Quando em contato com a carismática presença do misterioso Messias da desordem, faz com que os integrantes da família e até a empregada assumam novas personalidades.
As alegorias usadas por Pasolini para representar o vazio dessa família burguesa está na cozinha que no primeiro plano aparece sem nenhum utensílio; panelas, frutas apenas o branco do azulejo e dos armários “pelados”, a degradação dessa família é um processo lento, mas continuo assim como a ação de intempéries, que é representada pelo o solo vulcânico sofrendo a erosão. O cinema de Pasolini é marxista e nele há as criticas a religião, ou pelo menos o rompimento com padrão católico italiano, este mostrado no personagem Lucia (Silvana Mangano) que na tentativa de preencher o novo vazio deixado pela partida do estranho, procura afeto em sexo fugaz com jovens em beira de estradas, mas no fundo sua tristeza é colossal. Na empregada Emilia que após ser amada pelo misterioso hospede, renúncia seu emprego e retorna para sua vila e lá assume uma postura acética.
É um filme com poucas pistas para seu entendimento, mas quando concatenado com os discursos socialistas e teoria de Marx a mensagem surge, ma leitura do segundo caderno e autores citados linhas acima, ajudam. Mas há algo de positivo em achar algo chato e tentar se esclarecer, pois há também o complexo de inferioridade e como sempre, e não vejo outra maneira, tento amenizá-lo com a busca de conhecimento. A cadência do filme, pelo desenrolar dos eventos e conflitos podem tornar a experiência um tanto chata, cineclubes e debates também ajudam, digo até que é fundamental para esse tipo de obra.
Veja abaixo alguns filmes que já assisti, tenho certeza que há uma dezena mais, que se inspiraram em Teorema ou pelo menos nos conceitos filosóficos de Max, "a sagrada família".
Um Vagabundo na alta Roda - Com Nik Nolte, Richard Dreyfuss e Bette Midler 1986 (quase um remake de Teorema)
Beleza Americana - Com Kevin Spacey, Annete Bening 1999
Toda Nudez Sera Castigada - Paulo cesar Prieiro, Darlene Gloria 1973
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