terça-feira, 20 de janeiro de 2015

BoyHood


Por Pachá
Duas mensagens são claras em Boyhood, primeira, álcool e família não combinam. Segunda, não importa onde vá ou com quem vá, o processo de ir é o que importa. E cabe a você fazer valer a pena. O filme carrega nos 12 anos de filmagem a grande propaganda de Boyhooh. Mas em final dos anos 80 a inicio dos 90, a ABC exibiu a série The Wonder Years, no Brasil anos incríveis, que inicialmente passou na TV cultura e mais tarde na Bandeirantes, no qual personagem Kevin vivenciava acontecimentos dos anos 60 assim como questões familiares e de sua adolescência. A série acompanhou o crescimento do personagem nos seis anos que durou a série.

O projeto de Linklater começa em 2001 quando Mason Jr., Ellar Coltrane tinha 6 anos de idade. E a partir dai o filme vai pautando etapas da vida não só de Mason, mas da família, mom Patricia Arquette, dad Ethan Hawke e Samantha, vivida pela própria filha de Linklater, Lorelei Linklater. Sob a perspectiva de Manson a historia vai se aprofundando nos dramas da família, de como a separação dos pais vai afetando as duas crianças, Manson e Samantha. E do quão difícil é para uma mãe criar dois filhos praticamente sozinha. Não há, em minha percepção, nada que dê ao longa o rotulo de master piece ou mesmo de inovador. Truffautt fez o mesmo com Jean-Pierre Léaud em 1959. Mas por outro lado o filme alcança uma simplicidade encantadora, e nada é tão complexo quanto alcançar a simplicidade em uma obra, sem perder a genialidade. Os diálogos de manson com a familia, as participações de Ethan Hawke e seus conselhos aos filhos que ele não vê com muita regularidade dão grandeza ao processo de crescer e descobrir o mundo. As constantes mudanças de cidade, as quais mom vê como necessária para melhor dar suporte aos filhos, na busca por melhor colocação no mercado de trabalho. Os dois maridos que logo se tornaram violentos por conta da bebida, são os dramas que as duas crianças tem que assimilar. E desse ponto de vista não há nada que outros filmes já não exploraram, com exaustão até.
As transformações de Ellar Coltrane, principalmente, e demais atores ao longo das filmagens são o grande diferencial. Normalmente temos aquele corte ou ponto de virada em que o ator mirim dar lugar a sua versão adulta, desempenhada por outro ator. Em boyhood temos um time lapse, sem aceleração, em tempo real. As rugas dos atores mais velhos, as espinhas dos adolescentes, as expressões as vozes, os olhares que vão endurecendo como se o peso da vida já fosse um fardo além do que seus jovens ombros podem suportar é, creio, que dá ao filme uma empatia com os personagens, tão humanizados. Cria uma espécie de interatividade movida por uma curiosidade em saber como serão esses adultos. Um realityShow sem a superficialidades sensacionalista a que esses programas carregam.


As atuações, são mais que corretas, são convincentes. Patricia Arquette incorpora uma autêntica mãe solteira, ou pelo menos casou com minha visão de mãe solteira. Ethan Hawke como sempre em diálogos cativantes. A parceria dele com Linklater vem desde Before Sunrise de 1996 e seguiu com as duas continuações, na qual ele também foi roteirista juntamente com Jullie Delpy. Ellar confere ao personagem profundidade, não pelos diálogos, mais pela expressão facial que apresenta nas diversas situações. Lorelei que já havia participado de waking Life, da uma show de interpretação quando criança. Na adolescência seu personagem fica mais introspectivo, e acredito que não foi proposital, aconteceu e ficou de uma naturalidade espantosa graças a difícil passagem da adolescência para fase adulta. A cena em que Mason volta para casa após a formatura do high school e a família esta em festa, solicitam a Samantha que faça um discurso, nitidamente ela não sabe o que fazer, a mim pareceu que a cena não estava no roteiro, mas ficou tão bacana pois Samantha esta confusa e limitou-se  apenas a um good luck! E como curiosidade, alias há vários videos no youtube com behind the sceene recheados de curiosidades. É que a filha de Linklater apos o quarto ano de filmagem pediu para sair do filme, que seu personagem fosse morta ou algo do genero, o que é claro a pai não aceitou, talvez explique o ar debochado e as vezes revoltado da teenager.

A trilha sonora, que abocanhou grande parte do orçamento do filme segundo Linklater, também ajuda criar o clima de esperança melancolica ou mesmo nostalgia nos sonhos de uma criança de 6 anos no caminho de  ingresso a fase adulta, onde o futuro é algo assustador tanto quanto desafiador, pois há caminhos aos montes e o tempo, paradoxalmente, parece não estar  a favor. A primeira cena tem como fundo sonoro "Yellow" do Cold Play. Ao dad Ethan Hawke o som ganha ares mais maduro, Wilco com "Hate it here" ou Flaming Lips com "Do you realize", Cat Power  com Could We?. Na festinha teenage Kings of Leon é a pedida. E Sem contar as músicas cantadas pelo próprio Ethan Hawke e Lorelei Linklater. 

Boyhood agrada pelo diálogo direto com espectador, é um desses filmes que merecem ser vistos de tempos em tempos.


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