Por Pachá
Em final da década de 70 Bill Mantlo e Al Milgrom
criaram o super-herói espacial Rom o Cavaleiro do
Espaço, inicialmente “Rom The Space Knight" era um
brinquedo que disputava vendas com Falcon. Rom combatia os terríveis espectros,
alienígenas transmorfo que estava dominando a Terra se infiltrando nas esferas
mais importantes das organizações terrestres. Os alienígenas de Under Skin me
trouxe à lembrança as historias de Rom, primeiro pela própria sinopse do filme,
não há mistério a ser desvendado, você entra na sala de cinema sabendo do que
se trata. Por ter lido livro sob a pele, ao final do filme fiquei com a certeza
da semelhança com os espectros de Rom e distância da obra literária que
inspirou o diretor inglês Jonathan Glazer que pelo filme de Birth de 2004, no
Brasil reencarnação, me pareceu um substituto melhorado de M. Night Shyamalan,
sujeito cujos filmes se perde o interesse tão logo tem-se o desfecho do
mistério. Birth é quase tão piegas quanto os principais filmes de
Shyamalan, com diferença de ter Nicole Kidman como protagonista.
Uma moto rasga as
estradas dos fiordes escocês, a moto encosta próximo a furgão estacionado. Um
sujeito desce da moto adentra escura trilha que leva a um lago ou rio. O
sujeito desaparece na escuridão e segundos depois reaparece com um corpo no
ombro e o joga dentro de furgão. Um corte e vemos o mesmo motoqueiro retirando
motocicleta esportiva do furgão em seguida, uma mulher começa a despir o corpo
inerte que o motoqueiro trouxe. Nesta cena, de cenário branco cintilante,
lembra THX 1138 os parcos diálogos também remete ao primeiro filme de Lucas. O
filme é um livre adaptação do livro under skin publicado em 2000 do escritor
alemão Michel Faber que no livro faz critica feroz a industria produtora de
carne, matança animal e respectivo consumo. Na historia de Faber o pobre homo
sapiens perde o lugar mais alto da cadeia alimentar. A pele humana é
iguaria para os excêntricos alienígenas, que usa uma mulher pneumática, como em
admirável mundo novo de Huxley, retornarei a este mais adiante, para atrair
homens másculos, bombados e solitários para o triste fim ao se tornarem meras
sobremesa espacial. O roteiro não fez questão de maiores explicações, e deixa
tudo a cargo das imagens, na mais perfeita comunhão com principio de Occam para
o qual as pluralidades não devem ser colocadas sem necessidades, no mais
harmonioso minimalismo imagético.
As cenas mudas,
com trilha sonora por vezes irritante, cria o que virou moda no cinema
alternativo, o rótulo sensorial. O cinema por si só já é uma experiência
sensorial e mesmo desprovido de um dos sentidos, olfato, ainda sim consegue
incitar nossos centros receptores de sensação até mesmo para odores. Outro adjetivo modernoso para filmes pretensiosos, é sinestesia,
sensação de natureza diferente, porém com alguma conexão de intimidade ou correlação
com outra sensação dispare. Analisando sob esse contexto é de se crer que
exista uma formula para filmes obras primas ou extraordinários. Escassos
diálogos, trilha sonora experimental, fotografia beirando o documental, câmera
na mão. Pouca ou nenhuma explicação dos conflitos e/ou motivações dos
personagens principais. E final sinestésico, que no caso de under skin
é uma certa humanização do ET de Glazer ou mesmo um final aberto, de inúmeras
possibilidade, e voilá temos um filme com pretensão a obra prima. E mais uma
vez sou levado a Rom o cavaleiro espacial em sua luta secreta contra os
terríveis espectros que pretendiam dominar a Terra com as armas dos próprios
terráqueos, politica, mentiras, economia, e claro guerras. Me pareceu
razoável acreditar que os ETs de Glazer estavam se “ reproduzindo”, pois no
início do filme temos apenas um motoqueiro, e após presas abatidas pela isca
feminina, os motoqueiros somam quatro easy riders espaciais. Ou talvez
em cada canto do globo exista uma célula alienígena fazendo a mesma coisa. E
voltando como prometido a Aldous Huxley lembro também de cena em que dois
personagem assistem a uma sessão de cinema perceptível.
“Comodamente instalados nas suas poltronas pneumáticas, Lenina e o
Selvagem aspiravam e ouviam. Foi então a vez dos olhos e também da pele.
O alienigena de Glazer bem pode ser comparado ao selvagem de admiravel mundo novo. Não sabemos de seus objetivos, mas entendemos de sua experiência sensorial, ou pelo menos é o que nos leva a crer o roteiro.
O grande nome do elenco é Scarlett Johansson e as cenas de nu frontal. O que lembro da Isserley, personagem do livro, e suas medidas remetiam a uma mulher mignon muito embora algo no seu corpo destoasse da beleza do rosto, incompatibilidade óssea do ET e hospedeiro. Johansson que tem estrutura longilínea sem excessos, foi transformada numa Vênus de Botticelli. Suas falas são curtas, carregadas de incerteza e curiosidade. Seu olhar vagueia a procura de algo além do que seu vítreo olhar enxerga em contradição com indiferença de seus atos. A cena do bebe abandonado na praia, é de uma angustia lancinante ampliada pela sonoplastia insana. E se a intenção era nos colocar na pele do alienígena, o filme falha ou melhor entra em contradição, pois não podemos esperar de outras formas de vidas extra terrestre comportamento semelhante ao nosso, pois a história nos mostra que o etnocentrismo nos impediu de compreender até nos mesmo, que dividimos o mesmo espaço-tempo, mesmo planeta.
Como curiosidade, há participação de Adam Pearson que sofre de neurofibromatosi. Aquele visual não é maquiagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário