Filmes sobre processos criativos sempre renderam boas histórias. A menos que haja supervalorização como estratégia de marketing nas excentricidades do processo das obras que ganham status de arte, é fácil nos darmos conta que a genialidade é prima sóbria da loucura. Ou tudo não passa da inesperada virtude da ignorância.
Riggan Thomson (Michael Keaton) tenta se livrar da estigma do ator de um papel só. Verdade que fez fama e fortuna com personagem da trilogia birdman, um super herói ao estilo do mundo individualista pregado pela cultura self made man americana. Mas o sucesso do passado não garantiu lugar seguro no presente e o futuro depende de ambiciosa adaptação de teatro para broadway, no qual Riggan é roteirista, diretor e ator. Até estreia da peça ele precisa controlar a voz que o tenta a todo momento convence-lo a desistir dessa farsa, ser ator de verdade. E ao invés disso voltar pra fama e os milionários cachês da franquia birdman 4. Mas Riggan desconfia que tenha desencadeado processo de loucura. E quando refletor de palco cai na cabeça de ator que Riggan não suporta, mas não vê como substitui-lo ele está convicto de que possui poderes ao confessar para produtor que não se trata de acidente.
O diretor Iñarritu, que já goza de considerável prestigio em Hollywood, não esconde a critica ao estilo hollywoodiano de fazer filmes e dominar o mercado com super produções arrasa quarteirões onde na sua grande maioria a arte é expelida das atuações e historias em detrimento do retorno do investimento. Nos diálogos é possível verificar a critica por trás do dilema de Riggan. A cena em que há choque de gerações, sua filha Sam (Emma Stone) diz que ele, Riggan, não existe simplesmente por não possuiir tweeter e Face Book, dá tônica da crítica. As pessoas querem ser virais assim como Hollywood quer lançar um blockbuster toda semana e abarrotar salas de cinemas. A critica de teatro Tabitha (Lindsay Ducan) é mais direta e ácida, e pretender destruir a peça com sua critica, pois o mundo de Riggan não cabe na broadway e representa tudo que ela despreza e odeia no mundo das artes cênicas. Com saída do ator que poderia arruinar peça, em seu lugar entra Mike (Edward Norton) uma espécie de queridinho da broadway por suas atuações a flor da pele. Entre ele e Riggan se instala conflitos de ego, onde Mike é acusado de irresponsável e sem profissionalismo e Riggan de farsa como ator e pretenso diretor.
Particularmente nunca topei o estilo de representar de Michael Keaton, de filmes piegas, salvo Beetlejuice de 1988 e sua participação em JackBrown. Mas em Birdman o cara esta irretocável e em harmonia com restante do elenco que conta com Edward Norton em papel que não cabia outro se não ele, que sempre dedicado e imerso nos papeis que lhe dão mas também sempre tentando inserir nas cenas alteração, o que deve ser um problema para diretor e roteirista, tal qual é para Riggan. Naomi Watts que já trabalhou com Iñarritu em 21 gramas, tem papel pequeno mas contundente em suas participações. Tem Andrea Riseborough em papel excêntrico, louco e sexy. A cena do beijo com Naomi Watts é inusitada e carregada de poesia do abandono.
Porém o filme é mesmo de Keaton o que é engraçado pois ele ja viveu nas telas Batman 1989 e 1992 na época em que Hollywood ainda não tinha nas HQ grande filão de lucros. É bem verdade que destruiu o personagem e foi ofuscado por Nicholson, mas de certa forma o personagem de Riggan casa com trajetória do ator. Em birdman ele esta numa encruzilhada, a loucura de ser reconhecido como ator genuíno ou efemeridade da fama datada.
Umas das particularidades do filme, no que tange parte técnica são, quadro fechado no rosto do ator e movimentos em planos sequências criando sensação de câmera continua. O roteiro enxuto, não desperdiça diálogos ou cenas em querer mostrar mais do que o que são.
Alejandro Iñharritu confirma com birdman, seu quinto longa, uma filmografia indelével. Um diretor que faz filmes que valem cada esforço, cada centavo de assisti-los.
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