domingo, 26 de julho de 2015

O Cavalo de Turin


Por Pachá

Assim como Dostoievski em crime e castigo narra a afeição por cavalos ao colocar no sonho de Raskolnikov uma égua ensanguentada morta após ser brutalizados por um grupo de bêbados. Nietzsche que nunca escondeu a grande admiração pelo escritor russo, também tem em sua história uma relação com cavalos. Em 1889 ao presenciar um camponês a açoitar um pobre e doente cavalo, ele Nietzsche se lança para proteger o pobre animal com o próprio corpo. As sequelas desse evento roubou a razão do filósofo que faleceu em 1900.

Béla Tarr monta sua história a partir desse fato, ao narrar a volta do camponês para casa, para uma pobre e dura vida junta a filha e com seu único bem, um cavalo doente. De poucos diálogos, a narrativa é uma verdadeira aula de cinema. Não há no filme um único sequer plano curto, a primeira cena passa dos 10min. Todos os corte são feitos na própria câmera sem mencionar a fotografia exuberante de Fred Kelemen. 


Na silenciosa convivência entre pai e filha, uma sutil e irônica mensagem de Nietzsche quando pregava que Deus abandonou o homem a própria sorte. A rotina dos dois habitantes de uma pequena propriedade nas descampadas colinas é observada por vários ângulos pelo qual vamos entendendo o que move os dois habitantes de inóspido lugar. Uma ventania que sopra dia e noite anuncia o fim de algo, mas pai filha e cavalo não tem muitas opções a não ser esperar o melhor, e o melhor significa apenas sobreviver da terra e dos poucos serviços que o velho pai pode conseguir na cidade oferecendo serviço de frete com velho cavalo que ja aparenta fadiga. 

O feno para o cavalo, as parcas batatas é tudo que se vê como alimento dos seres vivos e um poço de agua que seca da noite para o dia. A ventania não da sinais de melhora, um vizinho alerta que tudo esta ruindo, em fala muito alicerçada no pensamento de Nietzsche.

A fotografia do filme é duma simplicidade e intensidade que impressiona pois não pretende ser mais do que é, apenas imagens que conta uma história, que marca o tempo de dois seres, tão íntimos pelo sangue e tão distante pela convivência. A filha parece dialogar mais com o cavalo do que com próprio pai. Mas o que pai e filha conversam não parece muito importante, já que a rotina, tão bem conhecida, é tudo que têm. A sinfonia do vento, que tudo comanda lá fora é completada com a trilha sonora de Mihály Vig que preenche as cenas interiores quando o vento apenas sussurra. 

Um filme difícil, verdade, mas que vale o esforço de captar o instinto de sobrevivência do ser humano diante da natureza, sem mencionar o fato da aula de cinematografia nas imagens de Kelemen.

János Dersz - Pai
Erika Bók - Filha
Mihály Kormos - Vizinho





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