Por Pachá
Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833) certamente
não havia se dado conta do que sua descoberta seria capaz de provocar na produção de imagens. A revolução que a fotografia iria causar
nas décadas seguinte tão pouco passou pela mente de Louis Jacques Mandé Daguerre
(1787-1851) que patenteou o invento do colega. Mas qualquer analise nas
intenções dos dois inventores é puro anacronismo.
Os
pintores renascentistas já se utilizavam de técnicas de projeções óticas e câmara escura para desenvolver e aperfeiçoar
técnicas de pintura conferido realismo quase fotográfico as obras medievais,
pois ao contrário de períodos anteriores da idade média, onde as pinturas eram
estilizadas sem maiores preocupação com a realidade que cercavam os artistas,
pois esta realidade era domínio do divino, as pinturas renascentistas pela
primeira vez representavam as pessoas como elas eram.
O casamento de Arnolfini,
pintado em óleo sobre madeira por Jan van Eyck em 1434
A
pintura, “O Casamento de Arnolfini” do pintor renascentistas,
flamengo (Holanda) Jan Van Eyck (1390-1441) é um exemplo do realismo alcançado no período, que de acordo
com artista e pesquisador David Hockney, esses avanços no realismo da
pintura, estão intimamente ligados aos avanços dos estudos da física ótica.
Segundo Hockney, por
volta de 1425 alguns artistas utilizavam uma câmara escura rudimentar. A
tradicional, que funcionava com lentes, é a precursora da máquina fotográfica
moderna sem o filme. Ela consiste em uma lente convergente que projeta uma imagem
real invertida sobre a tela. (A imagem projetada é chamada de "real"
porque a luz realmente atinge a tela, de um modo muito parecido com que a
imagem expõe o filme de uma câmera. O outro tipo, chamado imagem
"virtual", ocorre quando a luz apenas parece partir da imagem, como
por exemplo no caso do reflexo no espelho.).
Detalhe do quadro O
casamento de Arnolfini,
Com a
popularização do daguerreotipo a partir dos anos 1840, os estúdios fotográficos
pipocaram pelas principais metrópoles da Europa, o mais famoso foi o de Feliz
Nadar, considerado o mais importante retratista do sec. XIX.
Victor Hugo retratado por
Felix Nadar
Nesse
período, como forma de status social, eram comum as nobres famílias possuir o carte de visite que nada mais era do que
uma pequena foto de 10 x 6,5cm no qual o possuidor assinava e se utilizava desse pequeno atributo de luxo como
forma de marcar individualidade que possuía a função que hoje é do cartão de
visita. Nessa mesma época começa a surgir os primeiros retoques a mão para
conferir cor ao carte de visite já
que a fotografia da época era monocromática.
Para obter maior realismo, alguns fotógrafos coloriam a mão as fotografias, como neste carte de vsite.
Muito
antes de John Knoll e a empresa de
George Lucas Light & Magic
transformarem o PHOTOSHOP na ferramenta no que é hoje, os retoques já faziam
parte do universo dos estúdios de fotografias do sec. XIX deixando patente o fato de que a manipulação
de imagens nunca dependeu da tecnologia. Uma simples escolha de angulo ou
enquadramento na composição pode significar uma edição de imagem conforme a
intenção do autor e portanto uma forma de traição para com a realidade.
Do
ponto de vista filosófico, uma edição pode representar a simulação de um futuro
possível e vai de encontro ao conceito ontológico de Roland Barthes para o qual
o referente da Fotografia é um reprodução de algo de forma mecânica que não se
repetirá existencialmente. Para Barthes a fotografia é sempre, “isto foi”.
Mas
alheio as discussões filosófica a cerca da natureza da fotografia, é comum
lermos nas redes ou mesmo em conversa sobre o impacto que determinadas imagens causam.
A foto esta “fotoshopada” ou se tirar a
edição não sobra nada...
Não sou
afeito a fotos com intervenções “pesadas” a estilo do que vemos em certos
trabalhos de fotografia de moda e publicidade, mas acredito, ainda em Barthes,
no olhar de como o “operarador” vai
empregar para delinear a realidade do seu universo imaginado, lembrando que
quando ele, “operador”, aplicou o peso de seu dedo no disparador da máquina, a
foto já estava pronta no seu imaginário, e não necessariamente é o que vai
aparecer no negativo ou display da câmera e sim um passo em seu processo de
fluxo de trabalho para obter o resultado objetivado, pois assim como os
negativos dos filmes, os arquivos RAW precisam e devem ser trabalhados, seja
para correção de balanço de branco, e dai conferir as cores sua dinâmica
correta, quando assim for, ou mesmo um recorte para melhor enfatizar ou
esconder algo.
Fontes:
BARTHES, Roland; A Câmara clara, Nova Fronteira, coleção 50 anos.SZANIECKI, Barbara, DIAS, Washington, MARTINS Marcos, MONAR Andre; Dispositivo fotografia e contemporaneidade. editora NAU
HOCNEY, David; Óptica e realismo na arte renascentista, artigo SCIENTIFIC AMERICAN Brasil, edição 32, Janeiro 2005
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