Garland já contava com minha admiração pelos roteiros de extermínio e Dredd. Em Ex Machina ele também é diretor. O deus ex machina no teatro grego era um artificio para encerrar uma peça quando esta não tinha conclusão ou impasse de retórica, dai entrava em cena o deus ex machina que encerrava a questão. Sua entrada em cena sempre foi um desafio para o teatro grego, pois era necessário dispositivos de suspensão como gruas, guindastes, pois esse deus não podia simplesmente entrar andando, era preciso vir do alto de onde moram os deuses.
Nathan (Oscar Isaac) é o excêntrico gênio por trás do maior mecanismo de busca do planeta, o bluebook. Residindo entre montanhas e rios dos fiordes norueguês, ele trabalha em um projeto de IA chamado Ava (Alicia Vikander) . Como forma de avaliar a consciência e sistema cognitivo de Ava através do teste de Turing, chega a fortaleza Caleb (Domhnall Gleeson) um dos programadores mais talentoso da bluebook.
A medida que vai interagindo com Ava, Caleb muda sua percepção de Nathan, antes um deus, agora uma pessoa insensível, egocêntrica e beberrona. E é nesse estratagema que esta ancorado toda a trama do filme, o que foi muito sagaz de Garland ao fugir do clichê criador e criatura. O dilema esta entre os dois personagens humanos. Para um, Nathan a IA é uma evolução e para o solitário nerd da programação, o que parece contar é o sentimento de aplacar vazios. Os diálogos entre os dois mundos nerds é afiado, mas sem desfecho e caminha para um impasse o que coloca a criação em segundo plano, até o momento que esta entra em cena como deus ex machina selando o processo visionário de Nathan de evolução natural de sistema computacionais dotados de consciência evolutiva.
As interpretações são corretas e convincentes, Oscar Isaac perfeito no gênio excêntrico, machista, notem que a sua governanta Kyoko (Sonoya Mizuno) é muda e "programada" para tarefas domésticas e lazer. O nerd Domhnall também passa credibilidade de garoto prodígio, sem muita experiência de vida fora da web.
A concepção sonora do filme auxilia no clima de suspense futurista que em conjunto com a fotografia e planos de corredores, portas lembra em muito o estilo Kubrick, ao menos para mim.
Com concepção minimalista, tanto de cenário e atores para um filme de ficção, ex machina é um filme equilibrado entre roteiro e expectativas com atmosfera de suspense competente que passa ao largo dos filmes de IA. Diria sem exageros que esse seria o filme que Kubrick imaginava para seu IA que Spielberg transformou em um filme garapa.
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