Herberto Sales (1917-1999) ocupou em 1971 a terceira cadeira da Academia Brasileira de Letras. Sua obra máxima, Cascalhos de 1944, que esta na fila dos livros para ler em 2016, lhe rendeu este posto. História Ordinárias é seu primeiro livro de contos, e como deixa claro o autor no prefácio, são estórias do cotidiano, onde a realidade não tem o menor compromisso com a ficção.
São causos de repartição, intrigas de família, amizades, etc que ao ler nos identificamos, não porque já vivenciamos, e sim por ser inteiramente factíveis de acontecer no oficio de viver. O seu estilo de escrita limpo, sem rodeios, guarda o frescor de uma época e por se tratar do homem em seu convívio com outro, encerra certa atemporalidade. O conto Automóvel, em minha opinião o melhor deles, é extraordinário quanto ordinário e nos dá a certeza de que essa cena se repete ainda no século XXI.
Em sua estrutura e encadeamento dos acontecimentos não há espaço para ambiguidades, floreios tudo é muito direto e contundente. É possível notar a influência de Kafka, no conto de abertura Ordem de Pagamento, e Dostoiévski nos demais. Porém o que predomina em sua escrita é o regionalismo do homem do interior, do campo quando este ainda teimava em ditar os rumos das cidades.
Nos 17 contos reunidos é fácil se afundar na leitura, na simplicidade dos conflitos de personagens tão comuns. Herberto deveria constar do currículo literário do ensino fundamental, já que sua escrita não tem o rebuscamento de autores consagrados da literatura brasileira. É uma pena deixar um escritor desse quilate no desconhecimento.
Meu contato com obra do escritor foi fruto do garimpo em sebo, e me encantei logo no primeiro conto. Ao pesquisar tomei conhecimento da grandiosidade de tal escritor e de sua obra magna, Cascalho, um calhamaço de 650 páginas.
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