Por Pachá
A narrativa épica empregado por Guerreiro em Pássaros de Verão encanta pelo esmero da fotografia, arte e atuações mais do que convincentes. Com pano de fundo nas origens do narcotráfico, o roteiro faz resgate das tradições dos clãs indígenas colombianos nos costumes Wayúu, e também de como o controle das pulsões de uma sociedade é vital para evitar o apagamento de sua cultura e tradições.
Rapayet (Jose Costa) pertence a um clã que perdeu prestígio com passar dos tempos, mas ainda sim ele desposa Zaida (Natalia Reyes), filha de Úrsula (Caminã Martinez) matriarca de um dos clãs Wayúu mais prestigiados e portadora do talismã que lhe concede se comunicar com espíritos e sonhos. Para conseguir o dote estipulado pelo clã de Zaida, Rapayet precisará ampliar negócios com os alijuna (termo wayúu para designar estrangeiros), e a partir dai é uma espécie de scarface que vai além da ganância pelo poder, há sim a manutenção de uma cultura, nem que isso precise ser feito pelo emprego da violência.
Não deixa de conter em seu desenvolvimento uma crítica, sútil, mas feroz sobre a interferência de culturas externas, na qual até o poder de contar essa história é pela percepção do "invasor", figura do narrador que não é cego a toa, e a própria rivalidade entre os clãs que faz implodir as tradições em matanças movidas por vingança, e como isso vai correr os pilares da cultura local.
Dividido em capítulos; "erva selvagem", "as tumbas", "a bonança" e "limbo", numa espécie de periodização tão bem dominado pelo método da História, facilitou o emprego de elementos estéticos para retratar o processo de desgate de costumes, o enfraquecimento do mito e religiosidade dos clãs.
Guerreiro e Gallego (esta sua esposa) já haviam concorrido ao oscar de melhor filme estrangeiro, com "Abraço da Serpente" confirmam com Pássaros de Verão o ótimo nível do poder de contar histórias com maestria.
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