Por Pachá
Tenho uma certa resistência para filmes terapia, mas o fato é que estes de tão imersos em subjetividades recheada de ficção, que quando bem conduzidos, rendem boas histórias, e é o caso de Honey Boy, no qual Shia LaBeouf exorciza seus demônios de uma infância, da qual o único legado, foi a dor, muito embora ele diga na vida real que teve uma infância boa.
O ator, Shia esteve associado a franquia transformers, aquela dos carros que viram robôs, e segundo consta, o ator tem uma personalidade um tanto indomável, em uma ocasião da promoção do filme Ninfomaníaca, ele apareceu com saco de mercado na cabeça escrito, "eu não sou mais famoso", sem mencionar outras polêmicas como plagio, desavença familiar, e creio que a partir dai ele vem tentando se descolar do garoto rebelde dos filmes de ação de qualidade duvidosa.
Honey boy que tem roteiro de Shia, no qual ele remonta seu início como ator mirim, em uma série de tv americana, e seu relacionamento como pai, Jeffrey Labeouf, seu empresário. Essa relação é abordada em cenas do presente, quando o ator agora crescido Otis (Lucas Hedges) é internado em uma clínica de reabilitação após um acidente de carro. E o passado no qual Otis (Noah Jupe) está iniciando sua carreira como ator. E nesse ponto há grande mérito da montagem que faz um encadeamento dos eventos de Otis que deixa a narrativa muito elegante, com transições muito bem desenvolvidas com metalinguagem, a cena inicial é de um set de filmagem, filme de ação, bem ao estilo transformers, e e depois vemos Otis ainda criança em cena parecida em um set de filmagem.
Shia LaBeouf interpreta seu pai, que aqui se chama James, um sujeito hippie, veterano de guerra, e sem muitas perspectivas de futuro devido ao passado, ele foi preso por estar envolvido em acidente de carro seguido de morte, muito parecido com que levou Otis adulto para clínica de reabilitação. Sem emprego, James é sustentado pelo filho, ator mirim, mas o sujeito, em sua percepção de mundo, de ensinar o que é certo para o filho, acaba por esquecer o principal, de ser pai em tempo integral, e isso coloca a relação pai e filho em um modelo na qual a violência é o meio para impor essa "educação". A interpretação conduzida por Shia nos deixa sem dúvida quanto ao caráter do pai. É quase impossível não sentir certo asco do sujeito mas que ao longo do arco dramático do personagem, vai se humanizando e desenvolvendo certo carisma.
Noah Jupe como Otis criança tem grande presença de cena, com uma entrega comovente, em sua quase insistência para que o pai, seja um pai de verdade, em uma inversão de valores, no qual ele, criança, é mais adulto que o pai inconsequente e a beira da loucura. Shia está em um papel que lhe cabe, um sujeito arrogante, presunçoso e pedante, e como tal entrega uma boa atuação. A cena em que ele, sentado no banheiro, diz para Otis como se sente sendo uma espécie de empregado do filho, da falta de amor próprio, é muito convincente, e uma performance irretocável de ambos os atores, bem ao estilo (quase) Bergman...
A condução de Alma é bem segura, resta saber, o quanto do filme é realmente dela, ou de Shia, fiquei com essa impressão. Uma outra coisa, que deixa algumas perguntas ao roteiro é, porque Otis não largou o pai e foi morar com a mãe? Há uma explicação, Há algo no trailer, ela, mãe de Otis trabalha, pois se você falhar, diz o pai, ela vai te amparar, ou algo que o valha, mas é tão vaga e mal desenvolvida, que não justifica a violência emocional e física de Otis, e a única interpretação, é de que Otis tem uma compaixão pelo pai, que teme abandona-lo, pois isso seria condená-lo a morte. E a condição que vivem, em motel, é um tanto inverossímil já que Otis gozava de certa fama na dita série infantil.
Honey Boy é um dramão bem arrumado, com interpretações competentes, com diálogos bem construídos e uma história bem cadenciada entre os eventos do presente e passado.
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