terça-feira, 14 de julho de 2020

A Hora e a vez de Augusto Matraga 2011

Por Pachá

O filme de Coimbra é muito fiel ao conto de Guimarães Rosa, isso é um ponto positivo, mas que em algumas passagens, fica muito literal, e por isso, um tanto forçado. Há também um certo alongamento e repetição de cenas, como a cena em que Quim (Irandhir Santos) narra toda uma cena que já havíamos visto, criando diálogos expositivos sem o menor efeito na trama.

Mas as cenas que exploram as paisagens do sertão, na fotografia de Lula Carvalho, é de grande beleza, e encanta ainda mais a trajetória de Augusto Matraga (João Miguel), que após sofrer um emboscada e dado como morto, tenta uma redenção de seus pecados com objetivo de entrar no céu, já que outrora foi um sujeito violento, seja com a família, seja com o povo do vilarejo de Murici no sertão de Alagoas. 

A comparação com a adaptação de Roberto Santos de 1965, é inevitável, e fica patente as atuações, Leonardo Villar encarna um sertanejo com mais dramaticidade, não que João Miguel não esteja bem, ao contrário, ele conduz a personagem com muita segurança e propriedade, mas há um certo cinismo em sua atuação, algo meio novelesco, que não condiz muito com a personagem do conto, algo em que Villar foi mais feliz em sua transformação dramática. Porém no conjunto, o filme de Coimbra é mais bonito, mais plástico e fluído em sua narrativa, com ótimas cenas noturnas, e creio que isso tem o objetivo de alcançar público. Um outro elemento que, em minha percepção, não ajudou muito, foi a trilha sonora no filme de Coimbra, o requien para Matraga de Geraldo Vandré no filme de 1965, é matadora e ouso a dizer que é uma personagem a parte, uma espécie de narrador onisciente.


Uma outra questão é a cor, em P&B ajuda na dramaticidade, carrega mais tristeza, o que no colorido, acaba falseando as cenas, jagunços carrancudos, mas limpinhos, com gibão, cartucheiras estalando de novo, roupas intactas sem rasgo, puídos, a roupa de Wilker branca após dias de cavalgada pelo sertão, não é muito crível, e o colorido só escancara esses detalhes, conferido o famigerado ar novelesco.

O elenco é grandioso, José Wilker na pele e armas do coroné Joãzinho bem-bem, com ótima presença de cena. Chico Anysio com uma participação memorável, já que este é o único registro em atuação não cômica. Irandhir Santos mostrando que mesmo um personagem "pequeno" é possível grandes atuações. Júlio Andrade como jagunço, tem pouca participação, quase sem fala. A dupla quilombola, Ivan de Almeida e Teca Pereira como os pais "adotivos" do novo Matraga, estão muito bem. José Dumont como padre, é mais um exemplo de boa participação mesmo em poucas cenas.

O desfecho, é bem ao estilo Sam Peckinpah, mas acredito que poderia ser um pouco mais elegante se não fosse uma troca direta de tiros em câmera lenta.

Em todo caso, ambos os filmes cumprem bem, na questão regionalidade, explorando a dramaticidade do sertanejo, da honra, do patriarcalismo centrado na figura do coroné. E para quem não leu o conto, acredito que fica um gostinho de vontade de ler.


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