segunda-feira, 13 de julho de 2020

Les Amants du Pont-Neuf

Por Pachá

Uma das produções mais caras do cinema francês naquele momento, e que levou 3 anos para ser concluído. É bom frisar que a ponte que dá nome ao filme, foi reconstruída em estúdio, o que por si só já é sensacional. Um ponto que chama atenção é a paixão que o diretor nutre por Paris, não a Paris dos filmes comerciais que retratam a cidade das luzes com pessoas falsas, fúteis imersas em pequenos dilemas cartesianos. 

A trama reside na obsessiva paixão de um mendigo, Alex (Denis Lavant) por uma mulher que vaga pelas ruas e que está prestes a perder a visão, Michèle (Juliette Binoche). A forma com que Alex vai preenchendo seus dias com a idéia de um amor, de alguém para dividir essa Paris tão peculiar, das praças, feiras democraticamente compartilhada por malandros, turistas e mendigos nos deixa com a sensação de que para sobreviver basta um amor, o resto a cidade oferece de bom grado, e como escreveu Sartre, "... desde que seja gozado modestamente". 


Alex muito mais que Michèle é um ser liquidado, seu passado e presente parece estar conectado com essas ruas, essas praças, e um futuro incerto, já Michèle tem um passado, já amou e sofreu e como escapismo dessa desordem, tem no desenho seu refúgio, mas que pelas artimanhas do destino, esse também aos poucos lhe é negado com a iminente cegueira. Ambos tem em comum a obsessiva maneira de encarar a vida. A atmosfera de catástrofe preenche as cenas, já que uma estória de amor inusitada como esta, a moda punk niilista repleta de extravagâncias, com toques de Bukowski, Leonard Cohen e todos os artistas de sarjeta que já flâneuram pela Paris tão exaltada por Miller e Sartre que alenta e confronta uma vida cheia de som e fúria na qual a única coisa que parece fazer sentido, e paradoxalmente por não ter explicação, é o amor, e este na composição mais romântica, injetado de loucura, doença, morte.

A fotografia é bem trabalhada para conferir essa atmosfera escura e a forma crua, barroca até, de conectar pessoas, por meio de uma cidade, das estrelas. A cena em que Michèle vai ao Louvre para ver um quadro de Rembrandt com luz de vela, pois com as luzes artificias fluorescente mais atrapalham que ajuda, é de uma sensibilidade devastadora, da perda de usufruir as pequenas coisa, mas que são essas que dão sentido a vida. Lembrou muito uma passagem da biografia de Chet Baker, quando ele perde os dentes, e para um trompetista, a embocadura é tudo, sem ela, é fim de carreira, mas ele insiste e vai em frente, pois sem a música só lhe resta a morte...







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