sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Breve Miragem de Sol

 

Por Pachá

"Navegar é preciso, viver não". Essa frase cunhada no séc. XIV pelo poeta italiano Petrarca seria uma uma bela storyline para Breve miragem de sol. Paulo (Fabricio Boliveira) conduz seu taxi pelas ruas do Rio de Janeiro e ainda que a cidade esteja imersa no caos característico das grandes metrópoles, é preciso o ponto de chegada, mesmo que o trajeto seja interrompido pelo desrespeito ao motorista.

A cidade vista pelas janelas e retrovisor do taxi de Paulo em um primeiro momento cria certo contraste entre o olhar atento, para o passageiro, os movimentos precisos da condução de Paulo, mas aos poucos vamos percebendo que o homem, ator social, é apenas reflexo do meio, ele sofre e pratica a ação que provoca as transformações que desencadeia os eventos que faz da vida uma viagem sem muita precisão, sem muita acurácia, não há uma bússola quiça um GPS para nos guiar, e ai percebemos que a vida de Paulo é tão caótica quanto a cidade que ele cruza todas as noites para ganhar o sustento. 

O roteiro vai entregando aos poucos a história de Paulo, um sujeito que tem um filho, o qual não vê, pois ao separar da mulher, essa fica com a guarda do filho. A situação financeira de Paulo é um dos motivos que o empurram para o subemprego, ao não conseguir recolocação após perder emprego ele se encontra em situação de fazer qualquer coisa para pagar a pensão do filho. A abordagem que Eryk Rocha faz da cidade e seus diversos atores, no caso os taxistas, é bem conduzida no sentido de humanizar e criar as conexões entre cidade e o indivíduo, em uma simbiose que muitas vezes devastadora, e humana pois a todo instante Paulo observa e presencia o comportamento humano; os jovens indolentes em sua busca por diversão a qualquer custo. A mãe cuidadosa. O homem de "sucesso" a qualquer custo. O casal em situação financeira que ameaça o relacionamento. 


A fotografia de Miguel Vassy é muito precisa, com enquadramentos sempre fechados, captando a cidade de forma lúdica, no jogo de luzes e cores sempre a partir do interior do taxi. A interpretação de Boliveira é impecável, com poucas falas, o ator transmite todas as incertezas, angustias de seu personagem com olhares e expressões faciais. Bárbara Colen entra bem em cena, ainda que tenha pouca participação, seu olhar melancólico, sorriso contido, casa muito bem com a resignação de Paulo.

Breve miragem de Sol tem como mensagem o quanto vale as coisas que realmente nos importa, seja para simples manutenção da sanidade ou como lastros para suportar o oficio de viver


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