terça-feira, 8 de setembro de 2020

Possessor

 

Por Pachá

O ditado diz que filho de peixe, peixinho é. E no caso do clã Cronenberg isso é deveras verdadeiro. O segundo longa de Brandon Cronenberg, filho de David Cronenberg, é perturbador e visceral ao estilo dos filmes do pai, e assim como este, explora os limites do corpo e mente, em cenas extremas de loucura e sanguinolência.

Tasya Vos (Andrea Riseborough) faz parte de empresa de assassinos a preço fixo, cujo método de atuação, lembra episódio de black mirror. A misteriosa corporação consegue por meio de implante se apoderar da mente de pessoas próximas a suas vítimas, e assim cometer o assassinato perfeito, já que o hospedeiro após cumprir a missão se suicida.

Girder (Jennifer Jason Leigh) é a mente por trás desse eficiente método de transplante temporário de mentes. Ela planeja um dos mais importantes trabalhos, assassinar o empresário John Parse (Sean Bean) e assim se apoderar da empresa dele. A pessoa escolhida para ser o hospedeiro é Tate (Chistopher Abbott) namorado da filha de Parse, Ava (Tuppence Middleton). 


Com estética psicodélica, com muitos frames em desfoque, cenas sobrepostas, a fotografia e as cores proporcionam um mergulho intrigante e perturbador da mente da assassina Vos que parece se encontrar no limiar da loucura, quando desenvolve um gosto psicótico pelo ato de matar. Esse aspecto, da excentricidade a psicopatia, é o campo de atuação de Brandon, seu primeiro longa, Antiviral 2012, não deixa dúvidas quanto a isso, e também a exploração da fragilidade e limites de corpo e mente diante dos avanços da tecnologia que Brandon explora de forma bizarra no que tange a interação humano x ciência, que se reflete em ótimas locações e objetos de cena.

O roteiro não esconde sua simplicidade no que tange aos objetivos dos protagonistas, não há muitas explicações e nem fazem falta, em uma opção explicita pela atmosfera e clima de questionamento da realidade, e nesse reside a complexidade da história que depende muito da incorporação dos atores desse estranhamento, desse processo de loucura em curso como uma espécie de sobrevivência em um mundo corroído por um doença invisível que está latente em todo ser humano, esperando o momento certo para desabrochar.

As atuações conferem de forma convincente os conflitos, Andrea Riseborough definitivamente é o rosto feminino de papeis em filmes com temáticas bizarras e insólitas, vide seu papel em Mandy, Oblivion e Birdman. Chistopher Abbott também é conhecido por encarnar com bastante propriedade papeis em filmes de suspense e terror, Piercing 2018, It Comes at Night 2017, e o ótimo Sweet Virginia 2017, em minha percepção uma atuação perfeita. E o fato mais emblemático, é a personagem de  Sea Bean, que não morre apesar de toda a cena gore que ele protagoniza.

Um filme perturbador e muito bem conduzido, com atuações igualmente perturbadoras. 


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