Por Pachá
O filme tão aguardado pelos fãs do livro e gênero sci- fi, em sua primeira parte, como vemos logo nos créditos iniciais, cobre metade do livro I, Duna, da saga escrita por Frank Hebert que é composta por 6 livros, todos com mais de 500 páginas.
As escolhas de Villeneuve para transformar a narrativa de Duna em imagens, ao mesmo tempo palatável para quem não conhece o universo do livro e agradar aos fãs, justifica os pontos obliterados da história original ou mesmo a ressignificação de personagens, mas ainda sim não está isento de criticas.
A comparação com o filme dos anos 80 dirigido por Lynch, em minha percepção, é inevitável ainda que Lynch tenha renegado a obra. É óbvio que o aspecto visual, proporcionado pelo CGI, deixa o filme de 2021 em vantagem, fato consumado. As naves de Duna 2021 lembram em muito a nave de Arrival 2016. O figurino não me chamou atenção, diferente do filme de 84 no qual as indumentárias acentuavam a diferença entre as casas, Harkonnen e Atreídes, ou mesmo da "espada" do imperador, os temíveis Sardaukar, uma espécie de espartanos, e ai até a forma de falar e expressão dos sardaukanos, no filme Villeneuve, lembra os 300 de Snyder.
Analisando os personagens, o duque Leto e lady Jessica, são os que mais sofreram, seja pela ressignificação ou atuação. Isaac como Duke Leto fica aquém da interpretação de Jurgen Pruchnow e do próprio personagem do livro. Francesca Annis leva certa vantagem em relação a Rebecca Ferguson, mas creio que na segunda parte, esta deve ter um arco dramático mais relevante, já que nessa primeira parte sua personagem está um tanto distante do que é descrito no livro e principalmente de sua importância nas intrigas palacianas.
Timothée como Paul Atreíde foi uma escolha bem acertada, comunga muito bem com o personagem do livro, juventude, tormento, vigor. Essa primeira parte é muito bem centrada na apresentação dos personagens, principalmente Paul Atreídes. O mesmo não se pode dizer dos personagens Harkonnen, Raban the beast interpretado por Dave Bautista não impõe medo como sugere o personagem do livro. Stellan como barão Harkonnen não tem muitas aparições nessa primeira parte, mas garante grande presença quando em cena. E acredito que a segunda parte será uma apresentação da casa Harkonnen e os planos do barão para usurpar o trono imperial, deixando como sucessor da casa Harkonnen, seu sobrinho, Feyd-Rautha Harkonnen vivido por Sting no filme de 84. A Freme Chani vivida por Zendaya tem uma discreta aparição, e esta também deve ter um arco dramático mais desenvolvido na segunda parte.
Um ponto muito sacrificado na narrativa proposta por Villeneuve foi as intrigas feudais, dado que a saga dos livros de Herbert, como todo escritor de épicos sci-fi pós guerra, tinha como lastro a idade média, e esta, está imersa em intrigas, relações de poder entre casas, reis, e religião. Isso tudo é muito fácil de se observar em Duna, assim como culto a personalidade, do messias, do predestinado. E é desse meio que vem o tormento de Paul que teme uma guerra galática pelo poder imperial desencadeada pelo seu "renascimento" como Kwisatz Haderach, que significa "aquele que pode estar em muitos lugares ao mesmo tempo" um messias planejado geneticamente ao longo de várias linhagens pelas Benne Gesserit e que se daria entre um casamento de um Harkonnen e uma Atreíde. E creio que isso será trabalhado na segunda parte.
A paleta de cor, bege/amarelo predominante, de Dune oferece pouco contraste, e creio ser proposital, pois quando algo quebra esse ton, causa um bom impacto, como uma pele preta, o vermelho sangue. O diretor de fotografia, Greig Fraser é adepto do menos é mais, movimento de câmeras contidos, composição e enquadramentos com esmero e pouco contrastes de iluminação, nada que chame muito atenção como por exemplo a fotografia 84 de Freddie Francis (1917-2007) ou mesmo de Storaro para mini série de 2000.
Um ponto que me decepcionou bastante foram as armaduras, parecem mesmo da idade média, principalmente dos Atreídes, são feias e transmitem a sensação de engessamento.
É sabido para fãs, que o Jihad Butleriano derrubou o deus-máquina, e implantou o lema paradigma de que "O homem não pode ser substituído" e por esse fato, histórico na trama de Herbert, que não há humanóides, IAs, ou mesmo computadores, e claro no centro dessa revolução religiosa estão as Benne Gesserit.
Duna 84
Duna 2021
Dado a complexidade de transposição do livro para tela, Duna 2021 cumpre bem esse papel, e acredito que não decepcionará os fãs, mas ainda sim deixará um quê de poderia ser melhor, resta saber se a segunda parte vai ousar, ou será burocrática no sentido de atender fãs e leigos do universo Duna.
Em uma analogia futebolística, Duna é aquela partida com placar 0 x 0, mas com alguns lances bonitos.
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