terça-feira, 24 de abril de 2012

Cockfight (Galo de Briga) 1974

Por Pachá
Monte Hellman é adepto do cinema do quase nada, pois pega historias onde se tem muito pouco, e ao lançar olhar cinematográfico como espécie de rolo compressor, extrai como substrato pequenos pedaços do complexo desenho que é espírito humano. Em galo de briga 1974, Hellman nos lança no mundo das rinhas de galo (cockfight), onde raivosos galos lutam até a morte, filme impensável nos dias vindouros. Esse é o universo de Frank um inveterado treinador e apostador.

O filme é permeado pela simplicidade, não que ser treinador e criador de galos de briga seja simples, Hellman nos dá dimensão dessa diferença na rotina do treinador; agenciar lutas e apostas, selecionar e treinar galos. Mas Frank (Warren Oates) tem como foco primeiro, medalha de melhor treinador de cockfight do pedaço, todo resto é secundário. Ele negligencia vida amorosa e familiar em prol de seu objetivo, até mesmo deixa de falar, pois sua bocarra o colocou em situações de puro pedantismo, ele então decide ser mudo até que ganhe medalha. É disso que se trata filme de Hellman, sacrifícios em favor de objetivos, fúteis ou não, e ai temos que atentar para o juízo de valor ao julgar tal cultura das rinhas de galo onde as lutas dos galos são culturais, porém criar galos não. 


Hellman que foi considerado herdeiro de Sam Peckinpah, com seus faroestes non sense, dois deles estrelados por Jack Nicholson, mantém certa dose de violência, os galos se matando com suas esporas e bicos, espirrando sangue em treinadores e platéia nos mostra como Hellman assim como Sam sabe explorar o derreamento de sangue e mais interessante, como filmar. Tecnicamente deve ter sido difícil fazer as tomadas das brigas, close ups de saltos, voôs e cravadas de esporas, mas Hellman consegue extrair com grande simplicidade, veracidade e ferocidade as brigas de galo. Cockfight é um filme interessante quanto diferente, pois a partir de fragmentos irrisórios tem a profunda simplicidade do que move o complexo conjunto material simbólico da vida.



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