Há
qualquer coisa de dissonante no filme de Marina Méliande e Felipe Bragança, a
começar pelo titulo Alegria The Joy. O filme tem na perspectiva de uma garota,
Luiza interpretado por Tainá Medina, a difícil passagem da adolescência para
fase adulta, ou pelo menos deveria, mas o que temos é o inverso, onde os
adolescente mantém pureza da infância porém com curioso senso de maturidade
carregado de fantasias. E tomando essa premissa o filme ganha ares oníricos nas
fantasias de Luiza e seus amigos. Há também, em minha percepção, conflito entre
os lanços de amizade, onde os personagens estão sempre juntos, porém com
diálogos distantes o que nos faz questionar tais laços ou mesmo os fios que os
sustetam. Dado que tudo neles parece cirurgicamente imputados, o que pode
ser explicado pelo fato da inexperiências dos atores ou mesmo falta de um trabalho mais
apurado na formação dos personagens.
A
trama se inicia com assassinatos sem muito explicações de Clóvis ou bate-bolas
na baixada fluminense. O primo de Luiza João (Junior Moura) é tido como morto
pela família, mas ele escapou a chacina, e a única que sabe da verdade é Luiza
que o esconde em apartamento. E o que se segue é a visão ou interpretação da
vida e morte por Luiza e seus amigos dentro de uma plano de heróis e heroínas,
e dai o subtítulo, um filme de super-heróis, onde a própria Luiza tem um
quê de Kitty Pride dos Xmen (dizem que ela pode atravessar paredes!!!). E
dentro desse contexto temos personagens descoladas da realidade com patente
esforço dos diretores de criar uma estética narrativa própria que cobra muito
mais do espectador do que o que tem a oferecer em termos de conflitos que movem
os personagens, com pés fincados na realidade, ainda que aspirem a vidas de
fantasias. E o que nos sobra é cisão completa entre cotidiano, pouco explorado
e mundo fantasioso dos adolescentes.
Alegria
de Bragança e Marina sugerida no filme é diluída no tedioso mundo dos que tem
tempo de sobra, os adolescentes cuja sensação de imortalidade torna o passado
algo tão distante e futuro algo intangível. O que não é de todo ruim, mas que
perde veracidade interna quando não há relação orgânica alguma entre
personagens e passagem do tempo. Os diretores são conhecidos por usar linguagem
cinematográfica poética com distanciamento do classicismo reinante do cinema
nacional. Vide A Fuga da Mulher Gorila, que tem tudo o que faltou em
Alegria.
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