sexta-feira, 17 de abril de 2020

A História da Eternidade


Por Pachá

Os dois primeiros planos da abertura de a história da eternidade é de uma beleza que por si só inspira, instiga a manter o olhar atento a cada frame. O trabalho de fotografia de Beto Martins é realmente de encher os olhos. Porém mesmo diante do belo e sublime, e creio que movido por esses, move-se também nossas pulsões de morte.

O cenário seco do sertão, mostra a resiliência de um povo acostumado ao pouco que lhe é dado pela natureza, essa escassez parece permear as relações dos atores sociais desse pequeno povoado, que assim como a caatinga, morre e renasce nos primeiros dias de chuva.

Querência (Marcella Cartaxo) sofre a perda de um filho, e já sozinha, acredita que esperar a morte é tudo que lhe resta. Das Dores (Zezita Matos) mantém sua solidão e existência amparada pela filha e neto que vivem na capital. Alfonsinha (Débora Ingrid), é uma adolescente, única mulher, em uma família de cinco homens, cujo pai carrega a dureza e aspereza do sertanejo. Na figura dessas mulheres reside o destino da mulher nordestina, cuja saída é tentar vida longe do sertão. Alfosinha sonha com mar, e nutre nada velada, a vontade de ir embora. Seu pai, Nataniel (Claudio Jaborandy) é a síntese do sertanejo resignado que nasceu no sertão, vive e morrerá pelo e no sertão. O estranhamento reside no personagem de João (Irandhir Santos), um artista em meio a esse ambiente hostil e concreto, carente de abstrações. Essas histórias, de personagens tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes, note que a vila é em arranjo de circulo, com casas rodeando uma praça, carregam seus lastros para suportar o peso da existência trespassadas pela tragédia.


O primeiro longa de Camilo Cavalcante é bem estruturado, com personagens bem delineados com interpretações potentes que sustenta o andar lento da trama, até o clímax bem ao estilo tarantinesco, faltou o sangue. O desfecho, da tragédia que vem se montando a medida que conhecemos os personagens, chaga com a chuva, a promessa de renovação de vida do sertanejo, e a cena final com Querência retornando com uma filha, provavelmente adotada, simboliza essa renovação que a chuva traz, e as tragédias pra lembrarmos que viver significa sofrer pequenas mortes e renascimentos antes da grande morte. E isso, como escreveu Euclides em Sertões, o sertanejo é acima de tudo, um forte.



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