terça-feira, 7 de abril de 2020

O Fim da Terra e do Céu

Por Pachá

O embate entre ciência e religião tem acontecido desde que o homem se sedentarizou a terra para dela tirar sua sobrevivência e por meio da agricultura, que demandou do homem observar fenômenos naturais para saber o quê e quando  plantar e colher. Esses fenômenos a principio, em seus primórdios, eram explicados pelo viés religioso, principalmente a partir da hegemonia do cristianismo e seu pleno domínio do período que ficou denominado como idade média, mas a medida que o homo sapiens avançava em seu processo evolutivo cognitivo, e os fenômenos naturais passam a ser explicados pela lógica e a matemática o choque é inevitável.

Estamos no séc. XXI, pelo menos 6 séculos desde o renascimento, que é um dos marcos para ciências, colocando o homem e o pensamento como mola propulsora do mundo. E ainda sim é preciso que cientistas precisem reforçar certas verdades irrefutáveis, como por exemplo o formato do planeta Terra, postulados das ciências naturais, como a lei gravitacional. E agora, 2020, explicar a importância de lavar as mãos, e que religião não freia pandemias.

Marcelo Gleiser com muito domínio do assunto, traça um interessante paralelo entre os fenômenos celestes e os seus impactos no pensamento e imaginário das sociedades. Com uma pesquisa histórica atraente e didática, percorre mitos e mitologias para explicar como os acontecimentos celestes estavam ligados a cultura terrestre, literalmente, e como esses moldava o pensamento e impelia o homem a buscar respostas além das explicações sagradas.

Com tom conciliador, deixando bem claro a importâncias de ambas, ciência e religião, mas em seus respectivos campos de atuação, Gleiser propõe e defende que a religião preencha os espaços onde a ciência é inócua, que é a espiritualidade, já que somos seres físicos e espirituais. E para ciência as explicações onde cabem a lógica para esclarecer as sociedade perante desastres, cataclismas etc. Ele também não se exime, em uma auto critica, do uso da ciência como propagadora do caos, e busca na histórica da ciência exemplos bem documentados, como a passagem do comenta Halley em 1910, no qual a ciência mais criou pânico do que trouxe esclarecimento para a sociedade.

Um livro pertinente em tempos onde "pensadores" que se dizem filósofos e arrasta uma legião de incautos e infla espíritos negacionista da pós verdade, a voz de Marcelo Gleiser é um acalanto para aqueles que tem no poder do discernimento o norteador de seu pensamento e entendimento do mundo em que vivemos e estamos inseridos.

"Não sigas os olhos estupidos, nem sigas o ouvido ruidoso, nem falatório. Mas examine tudo somente com a força de sua percepção e pensamento"

                                                                                             Parmênides 530 a.c - 460 a.c

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Marcelo Gleiser (Rio de Janeiro, 19 de março de 1959)

É físico, astrônomo, professor, escritor e roteirista brasileiro, atualmente pesquisador da Faculdade de Dartmouth, nos Estados Unidos. É membro e ex-conselheiro geral da American Physical Society.

Conhecido nos Estados Unidos por suas aulas e pesquisas científicas, no Brasil é mais popular por suas colunas de divulgação científica no jornal Folha de S.Paulo. Escreveu oito livros e publicou três coletâneas de artigos. Participou de programas de televisão dos Estados Unidos, da Inglaterra e do Brasil, entre eles, Fantástico.

Marcelo recebeu o Prêmio Jabuti em 1998, pelo livro A Dança do Universo, e em 2002 por O Fim da Terra e do Céu. Em 2007, foi eleito membro da Academia Brasileira de Filosofia. Em março de 2019, tornou-se o primeiro latino-americano a ser contemplado com o Prêmio Templeton, tido informalmente como o "Nobel da espiritualidade".


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