Por Pachá
Uma das coisa que certamente vai encantar em vivarium é seu design de produção, por lembrar episódios de além da imaginação, sim e há várias outras referências em minha percepção que vai agradar aos fãs do realismo fantástico. A primeira que me lançou em completa abstração é poder imaginar que a cena final de 2001 Uma odisséia no Espaço, aquela em que temos passado e presente em um mesmo aposento, e sabemos que se trata de alienígenas estudando o homo sapiens, pode muito bem ter sido expandida, para o perfeito conjunto habitacional Yonder.
Gemma (Imogen Poots) e Tom (Jesse Eisenberg) são um casal que pretendem seguir o curso natural das convenções sociais, casar ter uma bela casa e perpetuar a espécie, pois bem, Martin (Jonathan Aris) um corretor imobiliário, ao primeiro contato, parece ser excêntrico e possuidor de senso de humor inglês, vai catalisar esse curso "natural" ao convencer o casal a visitar o perfeito empreendimento para jovens casais, a partir dai há o ponto de virada da trama, o condomínio na verdade é um labirinto, com casas exatamente iguais.
A produção que parece ter custado $4M, e faz valer cada centavo, e graças ao roteiro que também é assinado por Lorcan e Garret Shanley, entrega uma trama bem estruturada e intrigante. E mesmo tendo o final já anunciado logo na primeira cena, a do ninho de passarinhos invadido por um cuco, não deixa de ser surpreendente, principalmente pelas metáforas, referências e abstrações que é possível desenvolver. A começar pela expectativa que as convenções sociais criam do indivíduo de sucesso. A família com o homem provedor do lar e a mãe educadora dos filhos, não é atoa que a personagem de Imogen, Gemma, trabalha com crianças, certamente uma critica a esse papel que se espera da mulher. O personagem de Jesse, Tom, é um hands on (mão na massa), um cara que espera exatamente isso da mulher, que ela crie seus filhos, e é bom frisar o seus, pois quando o casal recebe a caixa com um bebê, ele não aceita, e nem mesmo quer chamar o ser de criança, (Senan Jannings), e sim de aquilo, uma coisa, ao passo que Gemma acaba, mesmo sem querer, desempenhado o papel de mãe. Nas interpretações cabe destaque para Imogen, que tem ótimas expressões faciais e presença de cena notável, Eisenberg está em um papel que não é muito sua praia, o cara comum, mas como escrevi acima, ele me lembrou muito as cenas de mesa de jantar de 2001...mas isso é uma percepção bem particular, e no mais o cara assina a direção executiva.
Outra parte da trama muito bem desenvolvida pelo roteiro em colocar em cheque o sonho suburbano, é o ponto inevitável, a mesmice, monotonia que a rotina inexoravelmente empurra os casais, mas na experiência antropológicas dos alienígenas, isso é inerente a raça humana, e ai eu busco outra referência que me veio a mente de bate-pronto, que é uma das tramas do livro de Kurt Vonnegut, matadouro 5, no qual uma família suburbana é atração em um zoológico em um planeta qualquer. Assim também, há na jornada dramática de Tom, e de todo terráqueo, o mito de Sísifo, não importa seu esforço, você falhará e o fim é um só, e no lugar da pedra, o buraco, que é bem apropriado.
Um filme, que questiona o status quo, alias vários filmes estão fazendo essa reflexão, logo, há algo de podre no reino da Dinamarca...e em tempos de pandemia de covid-19...bem, deixa o tempo se encarregar disso.
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