O filme de Serge Gainsbourg é uma ode ao sexo anal, todo o filme é concebido com esse intuito e a brutalidade que essa modalidade de "amor" carrega, a cena protagonizado por Gerard Depardieu e Padovan (Hugues Quester) não deixa dúvida. O filme abre com um caminhão, um mack e nesse simbolismo há toda uma masculinidade com pelagem homosexual. O caminhão é quase um fetiche, sempre filmado em ângulos diferentes, dos pneus a carroceria, seu condutor Krassky (Joe Dallesandro) carrega os traços dessa masculinidade, porém suas preferências sexuais recai sobre meninos, e nisso há uma espécie de aviso, caso não queria sofrer como Padovan, que apanha de outros héteros pelo fato de ser homosexual, o mesmo não acontece com Krassky, que é tão macho quanto os heteros, e portanto tão perverso quanto estes.
Em uma parada para almoço, Krassky conhece Johhny (Jane Birkin), com sua aparência andrógina, e esta cai logo no gosto de Krassky, e a partir dai reside o amor com complicações, já que Krassky se apaixona por Johnny justamente pela sua aparência de menino, e apesar de todos os avisos de que Krassky gosta de rapazes, Johnny insiste no romance.
Em seu debut no cinema, Gainsbourg além de abordar o tema sexo anal, nos anos 70, coisa que poucos filmes o fizeram na época, ainda emplacou a famosa música que fez grande sucesso nos hits de motéis dos anos 80, era ligar o som, e lá vinha o órgão inconfundível de Je t'aime moi non plus. A técnica, pode parecer que foi comprometida em detrimento do simbolismo, a fotografia é descuidada, talvez de maneira proposital e o pouco recurso, acabam por se alinhar com a narrativa. O filme é todo rodado durante o dia, e creio que usa muito pouca luz artificial, mas ainda sim há cenas sem foco, just do it, bem ao estilo punk rock, não que seja ruim ou comprometa a narrativa, mas me incomada.
As interpretações, são mais naturais, sem pudor, pois assim é o ato sexual, no qual nos despimos não só das roupas, mas de muitas convenções sociais. A cena em que eles param o caminhão para Johnny fazer xixi e a câmera faz o enquadramento do ato, é bem emblemático. Birkin que a essa época já era mulher de Gainsbourg, não se faz de rogada e se entrega em cenas de nudez, sexo e violência. Dallesandro, o galã da época, sexy symbol também tem boa presença e faz belo par com Birkin.
Há também várias cenas que podem ser confundidas e ter a interpretação de que o sexo anal é sujo e imoral. O patrão de Johnny vive peidando, e recebe de Krassky o apelido de cagão. A cena em que eles descarregam o caminhão repleto de lixo em um lixão e logo depois vemos eles, Krassky e Padovan, carregando o caminhão de latrinas e bidês em minha percepção tem conotação ao sexo anal e a homosexualidade, alias todo o filme é carregado dessa atmosfera.
Quando eu assisti a esse filme pela primeira vez, na videoteca do CCBBRJ, achei que era um filme pós apocalíptico com tema gay, já que o cenário, o interior de uma cidade que pode ser em qualquer lugar, é bem desalentado, a cena das compras, no qual Johnny compra carne de cavalo em mercado a beira a estrada é de uma desolação pós hecatombe. O baile, escatológico, no qual ocorre cenas burlescas, também me deixou com essa percepção...
Um filme que coroa o universo de Gainsbourg de paixão pela morte, sexo sem censura e o cinismo diante da sociedade conservadora.
C'est l'amour bébé. Croyez-moi, c'est rare.
Nenhum comentário:
Postar um comentário