sábado, 21 de abril de 2012

Shame

Por Pachá
O diretor inglês Steve McQueen tem grande atração pela prisão, seja esta física ou psicológica. Assim como em Hunger filme sobre protesto, greve de fome do ativista do IRA, tem personagens aprisionados, reféns de ideais ou desejos patológicos providos pela liberdade excessiva ou falta desta. Em ambos os filmes há contato com vazio, há procura por algo que nunca se teve, ou por total desconhecimento do que os movem ou por pura negligência disfarçada em cinismo. Em ambos os filmes os personagens vivem a beira de atraente abismo, pulsão de morte em divagações mais filosóficas.

O filme é centrado nas interpretações, creio que McQueen tem extrema atenção no trabalho dos atores, Hunger e Shame guardam essa preocupação, que alias interpretado pelo versátil e convincente ator alemão Michael Fassbender. Carey Mulligan surpreende numa atuação muito mais densa do que sugere sua frágil e inocente carinha angelical. Basta lembrar que ela está em Drive outro ótimo filme de densa atmosfera.

Em shame Fassbender vive Brandon, um sexholic que ignora, ou pelo menos nos dá essa sugestão de conviver com distúrbio, como se este fosse um resfriado que nunca se vai. No trabalho, idas ao banheiro para rápida bronha, HD do computador é sujo, penetração, oral, anal, inter-racial como bem frisa seu chefe que não desconfia, que por trás do sério e dedicado Brandon esconde um ser humano solitário, perdido, clamando por socorro. Entra em cena sua irmã Siisy, vivida por Carey Mulligan, tão o mais problemática do que irmão. Enquanto Brandon sofre de disfunção afetiva, apenas endorfina pós sexo importa, ela é carente patológica. Os dois irmãos parecem ter historia além do sugerido, pensei numa infantil relação incestuosa. Mas o diretor não nos entrega tal passado, deixado esta ponta para reflexões a parte. Sissy promove quebra na monótona rotina do irmão, acesso a sites pornôs, encontros com garotas de programa. Brandon não pode cumprir com papel de irmão mais velho e cuidar de Sissy como ela espera. Dentro desse cenário não há conclusões obvias diante dos conflitos apresentados, há apenas chamado da natureza humana, imperfeita, doentia movendo-se em mundo de relações liquidas. A cena do encontro de Brandon com colega de trabalho em restaurante retrata bem, ou pelo menos tenta traduzir o pensamento de Zygmunt Bauman em Amor Líquido.

McQueen é adepto de filmes abertos e como é moda em Hollywood a estrutura narrativa de Shame não é tão linear, pelo meio do filme percebemos conclusão, seguida de explicação, porém tudo muito bem alicerçada nas imagens. O filme é enxuto nos diálogos. Tudo que sabemos do personagem central é através das imagens que vão montando rotina de Brandon.

Para quem não está acostumado com temas do gênero, o filme se torna difícil experiência, mas depois de Saló, Os 120 dias de Gomorra o filme de McQueen é apenas alerta para os males das relações em tempos pós-moderno.

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