David Cronenberg parece ter abandonado o cinema realismo fantástico pelo qual ficou conhecido, embora seus filmes mantenham certa atmosfera de estranheza, de ambigüidade entre real e imaginário, o simbólico parece tomar conta da estrutura narrativa e dos conflitos internos dos personagens. Em Método Perigoso Cronenberg analisa relação entre Carl Jung e Sigmund Freud que nos primeiros anos do sec. XX trocam correspondências e parcos encontros para discutir rumos e métodos psicanalíticos. O filme parece disfarçar o tema principal que é a divergência de corrente de pensamentos entre os dois psicanalistas, com o tórrido e doentio, para época, romance de Jung e Sabina Spielrein.
O inicio do séc. XX ainda estava completamente dominado pelas ciências naturais, ou pelo menos os axiomas da física clássica do mundo cartesiano e mecanicista imperava de tal maneira que qualquer linha de pensamento fora dessa corrente não recebia qualquer atenção. A objetividade do método e racionalidade do positivismo ditavam as regras, vale ressaltar que nesse período a psicologia, psicanálise ainda não tinha se firmado como ciência sociais, na verdade a própria ciência social como a conhecemos hoje estava engatinhando, era preciso criar teorias e métodos para torná-la ciência. E nesse fato reside o conflito entre os dois psicanalistas, Freud lutando para manter a psicanálise dentro do método que garantisse sua cientificidade ao passo que Jung queria romper paradigmas, abstrair e criar dialética com outras áreas, esoterismo, misticismo, signo, simbólico, e não ficar preso ao reducionismo freudiano da sexualidade, o que rompe a ira de Freud. Há uma cena que deixa isso de forma bem elucidativa, quando no escritório da residência de Freud, Jung confessa que pretende buscar explicação fora das ciências racionais e com isso sela ruptura com seu colega.
As interpretações não poderiam estar em melhores mãos. Viggo Mortensen, que caiu nas graças do diretor, está mais que correto no papel de Freud, papel inicialmente de Christoph Waltz, mas que de acordo com próprio Mortensen em entrevista “ As vezes é preciso ter sorte”, pois Waltz declinou do papel ao optar por blockbuster de grande estúdio. Michael Fassbender como Jung dá devida carga dramática ao personagem, o que acaba por impor certa visão imparcial na relação dos dois amigos, ao final Cronenberg parece, posso estar completamente equivocado, mas foi essa minha percepção, de que o pensamento de Jung acaba por prevalecer sobre as descobertas de Freud, em miúdos há certa negligência nas descobertas do pai da psicanálise. Keira Knightley convence no papel de fraulein Spielrein mesmo exagerando nas expressões faciais ainda mais aguçada pela magreza da face. Completa o elenco Vicent Cassel em papel sem nenhuma relevância para trama proposta por Cronenberg. E a despeito de qualquer critica dos rumos do cinema de Cronenberg, em minha percepção Um Método Perigoso é um ótimo filme, tanto tecnicamente como dramaticamente.
O velho Cronenberg está em Cannes com Cosmópolis que pode ser uma volta a velha forma. O festival francês também abrigou a estréia do filho Brandon, com o longa Antiviral. Segundo as primeiras impressões os filme segue a cartilha do body horror dos filmes do início da carreira do cineasta canadense, como Rabbies e Shivers. Ficar de olho, ambos devem chegar aqui em outubro.
ResponderExcluirEstou ligado... tem também o filme do filho mais velho de Coppola e participação deste como roteirista do filme de Wes Anderson. É esperar mon ami!
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