sábado, 1 de abril de 2017

Paterson

Por Pachá
Há certa atmosfera nos filmes de Jarmusch que não é tarefa fácil de explicar, algo que ele vem mantendo em seus filmes desde Estranhos no Paraíso. Um vigor na simplicidade existencial amparado na banalidade do cotidiano, fragmentos oníricos de resignadas rotinas, ainda que na trama estejam inseridos personagens ou narrativa fantástica, como é o caso de Amantes Eternos. 

Ao assistir Paterson eu me vi passeando por alguns filmes do diretor, como Ghost Dog, Dead Man, Broken Flowers todos de personagens, resignados diante da vida e/ou da falta de ambição. Paterson (Adma Driver) é um pacato motorista de ônibus na poética cidade de Paterson, New Jersey. Paterson retira de sua rotina poemas que ele escreve a moda antiga, com caneta em um note book (caderno de anotações). Ele não usa celular, segundo ele uma espécie de coleira. Sua rotina consiste em acordar ao mesmo horário, 6h15am, fazer o café da manhã, e ir andando até a garagem da companhia de ônibus na qual trabalha. A noite anda com cachorro e para no mesmo bar e toma sempre uma cerveja, uma única cerveja. E se ele é desprovido de sonhos e ambições, sua companheira Laura (Golshifteh Farahani) sonha e tem ambições pelos dois, mas nada que cause atritos na relação, Laura é a mulher de verdade e Mário Lago deveria saber disso, Laura é incentivadora, compreensiva, meiga, exótica e carregada de estilo, algo sobrenatural, vou mais longe uma quimera para os dias de modernidade liquida. Confesso que o personagem parece fora do contexto e chama atenção no desenrolar da trama e ao terminar de assistir o filme, me confortou a ideia de achar que o personagem é uma projeção imaginária de Paterson uma musa para seu processo criativo e lastro para suportar ofício de viver.

Em seu itinerário Paterson vai coletando fragmentos de conversas dos passageiros, ângulos das ruas e prédios, e assim como o poeta William Carlos Williams, Paterson também tem seu processo criativo na banalidade do cotidiano. Certamente umas das melhores interpretações de Adam Driver muito embora o tenha visto em apenas dois filmes, Midnight Special 2016 e Star Wars 2015.

Tecnicamente o filme não chama atenção pela fotografia ou câmeras arrojadas, essa amparada na simplicidade de pouca luz, intenso contraste entre sombras e claros, as cenas do bar exemplifica essa questão. Já as cenas internas do apartamento e interação entre Paterson e Laura há mensagem entre o preto e branco, principalmente no estilo de Laura tão yang/iachin com aspirações a cantora folk de estilo preto e branco, o que é curioso já que a personagem tem nitidamente traços orientais, e para essa cultura o colorido é sempre presente o que também chama atenção para deslocamento do personagem diante da realidade do protagonista Paterson.


2 comentários:

  1. Interessante, você gostou do filme? É excelente, sinto que história é boa, mas o que realmente faz a diferença é a participação do ator Adam Driver neste filme. Eu o vi recentemente em Lucky Logan Roubo em Família, você viu? A participação do ator foi fundamental. Adorei, pessoalmente eu acho que é um dos filmes de comedia mais assistidos que nos prende. A historia está bem estruturada, o final é o melhor! Sem dúvida a veria novamente, se ainda não tiveram a oportunidade de vê-lo, eu recomendo. Cuida todos os detalhes e como resultado é uma grande produção.

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    1. Sim gosto muito desse filme, eu sou fã do cinema de Jarmusch...mas acredito que o mérito ai é do roteiro e direção, claro há o peso do ator em transpor o que o diretor tem mente do personagem criado...e como escrevi esse ritmo e atmosfera quase de desesperança, melancolia e resignação é bem característico dos filmes de Jarmusch...

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