Por Pachá
O diretor Dennison Ramalho já havia impressionado com o excelente curta, Ninjas, e agora com Morto não Fala, demonstra que tem não só propriedade mas também domínio para narrativas de terror.
A primeira coisa que salta aos olhos é a fotografia de André Faccioli (Se eu fechar os olhos agora) e a paleta de cor, não que seja algo original, mas por aproxima-lo da estética dos filmes gringos, e creio que isso é algo que precisa ser levado em consideração quando se deseja alcançar o público nacional.
A trama traz a história de Estênio (Daniel Oliveira) funcionário do necrotério da cidade de São Paulo, cuja função é preparar os cadáveres para o médico legista realizar autópsia. Estênio ganha pouco, trabalha a noite, tem dois filhos Ciça (Annaiara Prates) e Edson (Cauã Martins), e possui o dom de falar com os mortos.
O primeiro ato mostra o estado das coisas, o universo de Estênio, seu trabalho, as conversas rápidas com cadáveres e sua relação na comunidade onde vive, na venda do Jaime (Marco Ricca) e a relação com sua esposa Odete (Fabiula Nascimento), e também o primeiro ponto de virada, quando Estênio descobre que sua esposa o está traindo.
Em minha percepção o roteiro optou por um estratégia mais óbvia, ao centrar a trama no âmbito sobrenatural, a partir dai tudo no filme é desencadeado, ou melhor é empurrado, pelos acontecimentos de almas vingativas, quase um clichê em filmes do gênero. As cenas em que Estênio conversa com cadáveres, quase que desaparecem, salva aquelas em que há o aconselhamento, bem ao estilo da jornada do herói, não que isso seja ruim, mas acredito que se a trama ficasse ao estilo do curta Ninjas, onde os acontecimentos são mesclados pelas ações do mundo dos vivos, policias e bandidos, e sutis ações sobrenaturais, a história ganharia mais potência.
As interpretações, principalmente do versátil Daniel Oliveira, o sujeito realmente esbanja talento e contribui, e muito para a narrativa não se perder nos clichês, compondo um personagem humilde, humilhado e carregando uma cruz mais pesada do que o que suporta. Fabiula Nascimento um tanto teatral, mas convence pelo talento, da dona de casa sufocada pelos filhos pelo marido, pela vidinha da periferia. Bianca Comparato entrega um papel insosso mas que não fere a trama. Marco Ricca tem participação discreta, porém correta e convincente quando em cena.
No âmbito geral, Morto não Fala, é uma obra de terror de excelente nível técnico, com riqueza de detalhes e diversão garantida para amantes do gênero.
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