sábado, 7 de setembro de 2019

Divino Amor

Por Pachá
O novo filme de Gabriel Mascaro retrata um mundo distópico, mas que de tão próximo de nossa realidade, chega a ser assustador.

Em 2027 o Brasil se torna uma nação majoritariamente evangélica, e assim como o cristianismo se apropriou de algumas festas pagãs, o mesmo se dá com a nova ordem religiosa que transforma o carnaval em uma grande rave em louvor ao Senhor.

A narrativa proposta pela trama, é sutil e coloca a realidade do casal Joana (Dira Paes) e Danilo (Júlio Machado) em colisão com a fé que cada um almeja. O casal aparenta estabilidade conjugal, mas há algo em curso que ameaça essa estabilidade. Joana procura amparo em seu pastor, e justamente nessas demonstração de devoção e entrega que reside o aspecto absurdo e de tão factível assustador, como um driveThru de oração, as sessões para manter o prazer supremo que brota do desejo divino para procriar a vida no seio da família, o deboche na correção de Joana quando diz para Danilo - singela não é com G? 

Mas há no filme certas repetições que não empurra a trama pra frente, as cenas de Joana no trabalho tentando salvar casamentos evangélicos, os cultos, os conselhos no driveThru me passaram a percepção de um roteiro com criatividade limitada ou esgotado, mas é compensado pela fotografia e arte, bem como as locações, sem mencionar as interpretações, Dira Paes como de costume a vontade e convincente, Julio Machado cria um interessante contra ponto. A voz over da criança, cuja a estrutura sugere ser ele o ponto de vista da trama, ajuda a criar uma atmosfera bastante verossímil.

Sou fã do cinema de Gabriel Mascaro, e em minha percepção é o diretor brasileiro mais expressivo e criativo com uma filmografia regular e madura, com trânsito seguro entre documentário e ficção.



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