quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Vazante 2017

 
Por Pachá

O filme de Daniela Thomas faz parte de uma seleta lista da cinematografia brasileira, os filmes épicos, sejam abordando personagens ou fatos históricos. Não que essa lista seja grande, ao contrário, é muito pequena, tão verdade que dá para contar nos dedos, vejamos, Desmundo 2003, Canudos 1996, Mauá o Imperador e o Rei, 1999 são os que primeiro vem a minha mente, Carlota Joaquina não conta, pois é um de-serviço a História do Brasil, e portanto o coloco no segmento de fofoca histórica. 

Em Vazante Daniela constrói singela, linda e interessante história da vida privada da casa grande tendo como recorte o período imperial, no ano de 1821 nas minhas gerais, quando a escassez de pedras preciosas estava em plena curva descente de produção.

O tropeiro reinol Antonio (Adriano Carvalho) volta de mais uma expedição e ao chegar a fazenda, descobre que já não tem mais esposa. A fazenda, que segundo ele nada dá, configurando nisso o espirito lusitano pouco afeito ao trabalho da terra, que segundo raizes de Sergio Buarque de Holanda, o colono português queria colher sem plantar. O senhor de escravos e comerciante entra em depressão, longe da terra natal em meio "impuros" Antônio bem que tenta um suicídio, mas num lance de sorte, é salvo por um de seus escravos adquirido recentemente.

As camadas desse complexo universo, no qual o poder patriarcal, centrado na figura do senhor da fazenda, senhor que decide quando se deve morrer e viver, seus mandos e desmandos, é sutilmente trabalhado na narrativa; a precária comunicação com escravos africanos, os alívios sexuais com a escrava formosa, configurando nisso, exame realizado em casa grande e senzala, de Gilberto Freire, que entendia nessa relação mecanismo de sobrevivência e também resistência, faz de Vazante uma interessante e linda, contudo triste, reconstrução de maculado passado, que nos diz muito do que somos hoje.

As interpretações, são vigorosas, profundas, com parcos diálogos que a todo momento nos tira da superfície da palavra e nos afunda nas imagens preto e branco da fotografia de Inti Briones ou paisagens das Gerais.

O cinema  brasileiro precisa de mais filmes históricos, épicos.







Nenhum comentário:

Postar um comentário