terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Border

Por Pachá

As convenções sociais ao passo que nos torna mais humanos, no sentido civilizatório, também nos distância das demais espécies, no sentido da convivência harmoniosa. Esse processo civilizador, exclui, discrimina, extermina o que não é "civilizado", as invasões europeias no continente, africano e sul americano ajudam a ilustrar esse medo e repulsa pelo diferente.

O filme de Ali Abbasi trabalha a empatia pelo diferente em uma história bizarra e surreal no conflito existencial da personagem Tina (Eva Melander) cuja aparência, lembra muito um fauno, tenta se adaptar ao mundo ao seu redor, mas como diz o ditado, você pode tirar o tigre da floresta, mas não pode tirar a floresta do tigre. Tina parece muito adaptada a sua rotina, trabalho casa e a preocupação com seus vizinhos, mas há algo que se move inexoravelmente em seu interior que é liberado ao conhecer Vore (Eero Milonoff), e nesse primeiro contato fica claro que há algo além de humano na trama.

O desconforto crescente a medida que a relação entre Tina e Vore se desenvolve ganha tom repugnante no chamado da natureza que Vore desencadeia em Tina, e ai reside o belo e sublime da narrativa... quem disse que é nojento?

Ali Abbasi que é iraniano, trabalha a alegoria do outro, como estranho e portanto inimigo, e a importância da identidade como fundamento para ocupar seu lugar no mundo, e como nos comportamos diante do que não entendemos, do diferente, algo muito em voga nos dias vindouros, de processo migratórios, de dilatação das fronteiras e inevitável choque de culturas.

Border é um filme magnífico, lírico com atmosfera angustiante e interpretações comoventes.





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