As convenções sociais ao passo que nos torna mais humanos, no sentido civilizatório, também nos distância das demais espécies, no sentido da convivência harmoniosa. Esse processo civilizador, exclui, discrimina, extermina o que não é "civilizado", as invasões europeias no continente, africano e sul americano ajudam a ilustrar esse medo e repulsa pelo diferente.
O filme de Ali Abbasi trabalha a empatia pelo diferente em uma história bizarra e surreal no conflito existencial da personagem Tina (Eva Melander) cuja aparência, lembra muito um fauno, tenta se adaptar ao mundo ao seu redor, mas como diz o ditado, você pode tirar o tigre da floresta, mas não pode tirar a floresta do tigre. Tina parece muito adaptada a sua rotina, trabalho casa e a preocupação com seus vizinhos, mas há algo que se move inexoravelmente em seu interior que é liberado ao conhecer Vore (Eero Milonoff), e nesse primeiro contato fica claro que há algo além de humano na trama.
O desconforto crescente a medida que a relação entre Tina e Vore se desenvolve ganha tom repugnante no chamado da natureza que Vore desencadeia em Tina, e ai reside o belo e sublime da narrativa... quem disse que é nojento?
Ali Abbasi que é iraniano, trabalha a alegoria do outro, como estranho e portanto inimigo, e a importância da identidade como fundamento para ocupar seu lugar no mundo, e como nos comportamos diante do que não entendemos, do diferente, algo muito em voga nos dias vindouros, de processo migratórios, de dilatação das fronteiras e inevitável choque de culturas.
Border é um filme magnífico, lírico com atmosfera angustiante e interpretações comoventes.
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