terça-feira, 6 de abril de 2021

Otac (Father)

 

Por Pachá

A cena inicial é de uma dureza e violência que é impossível não refletirmos sobre a humanidade e de como os sapiens se comportam perante seus semelhantes.

O filme sérvio é inteiramente calcado na mais básica das condições humana, a sobrevivência, o alimento na mesa, a manutenção da família e da sanidade no mundo contemporâneo.

Nikola (Goran Bogdan) é um pai de duas crianças. Há dois anos que ele não consegue emprego, e desde então sobrevive de bicos e luta para receber a indenização do ultimo emprego formal. Sua mulher em ato desesperado de protesto, comete autoimolação. Sem a presença materna, a família aos olhos do Estado, e aqui o Estado é o Leviathan, julga que Nikola não tem condições de cuidar das crianças, e estas são enviadas para uma família provisória.


A luta do pai, Nikola, para conseguir a guarda dos filhos, se transforma em uma verdadeira cruzada para esse homem, orgulhoso mas digno que luta pelo que julga ser justo. A medida que a trama vai se desenrolando, temos a impressão, ou somos levados  a crer, que o Estado faz pouco ou nada para ajudar Nikola, na verdade parece fazer de tudo para que ele não tenha seus filhos de volta. E logo é colocado para o espectador os motivos do serviço social criar tantos empecilhos.

O roteiro em minha percepção, deixa a trama um pouco cansativa, quando Nikola decide apelar para o ministro, e para isso decide ir a pé, até Belgrado, cerca de 300km de sua cidade natal. Pelo caminho ele conhece alguns tipos, que perderam escrúpulos na luta pela sobrevivência, e ai eu vejo uma proposta não muito elegante para conduzir o drama de Nikola ou mesmo de aprofundamento do personagem e seu arco dramático, mas que também se justifica, já que há poucas linhas de diálogos, dado que  Nikola é homem de poucas palavras.

O filme carrega certo contraste entre a natureza de Nikola, uma homem do campo, taciturno e a sensibilidade com que ele luta pelos filhos, já que há poucas cenas de interação entre eles, nos levando a crer que Nikola faz tal esforço mais para si do que pelos filhos, estes uma espécie de amparo do homem solitário. A cena de desfecho é tão desoladora quanto a cena inicial, e ao mesmo tempo tocante, dada a determinação e resiliência do ser humano diante de um meio hostil e pouco afetuoso.

Otac é um filme interessante que vale todo esforço para ser visto, ainda que não seja tão impactante em seu desenrolar como sugere a cena inicial.





2 comentários:

  1. Cheguei ao seu blog buscando pelo documentário White Riot e agora tô super animada. Muito massa, isso aqui é o suprassumo da internet!
    Grande abraço.

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  2. Olá Jumo...Legal, seja bem vindo e fique a vontade!

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