Por Pachá
Desde Durval Discos 2002, que eu não via uma abertura de filme nacional tão legal. E a abertura de Todos os Mortos é uma mostra do esmero da produção, que é simplesmente impecável.
A trama gira em torno da familia Soares outrora uma rica família cujo patriarca Barão Soares, um dos tantos barões do café do período imperial, está em processo de falência. Suas filhas, Ana (Carolina Bianchi) e Maria (Clarissa Kiste) vivem em São Paulo com a mãe, Isabel (Thaia Perez). Maria anda preocupada com a saúde da mãe e da irmã, a mãe já idosa sofre com a saúde e com a humilhação da decadência de sua família, a cena em que sua amiga, Romilda (Leonor Silveira) propõe o casamento de seu sobrinho, com Ana, deixa, ainda que de forma sutil, a impotência de Isabel diante do incerto e inevitável destino da família.
O filme pode ser sintetizado em uma única palavra, sutileza, e a partir dessa premissa o roteiro retrata o racismo que permeia uma sociedade até os dias atuais. E a abordagem é ousada ao incorporar o estranhamento como elemento narrativo, como sons e imagens que não condiz com recorte temporal em que está situado a trama.
O elenco majoritariamente feminino, está bem entrosado com diálogos precisos conferindo por vezes elementos fantásticos a trama, principalmente quando entra em cena Iná (Mawusi Tulani), e a partir dai também as sutilezas vão se sofisticando para abordar o racismo da família Soares, e a cena mais emblemática ocorre quando há o embate entre Iná e Isabel, está insiste que Iná deixe seu filho, nascido após a lei áurea, aos cuidados dela para que o garoto aprenda piano e seja educado melhor, e nesse fato reside a coisificação do ser, o lado mais nefasto da escravidão.
A fotografia de Helène Louvart que também fotografou A Vida Invisível, é bem correta e precisa em enquadramentos fechados que vão se abrindo, dando pistas, conforme a trama vai avançando.
Certamente é um filme que vai abrir debate sobre o racismo estrutural, bem como combustível para s pautas identitárias.
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