quarta-feira, 11 de agosto de 2021

A Morte Habita à Noite

 
Por Pachá

O universo bukowskiano é repleto de personagens que logo são alçados a categoria de fetiche pelos artistas que buscam no cotidiano mundano, inspirações para seus processos criativos. E o principal personagem desse universo é o alter ego do velho safadão, Henry Chinaski.

O filme de Morotó é inspirado na produção de contos de Bukowski, em sua maioria sempre de cunho autobiográfico. E creio que a principal inspiração para o primeiro longa metragem de Morotó vem do conto, a mulher mais linda da Cidade, ao menos esse é o mais explícito.

Raul (Roney Villela) tenta se manter em empregos ordinários para sustentar os seus vícios, bebida, sexo, e a mais importante manutenção a sanidade, a escrita. E claro que para quem não está familiarizado com o universo do escritor alemão, naturalizado americano, apenas vai enxergar um pobre diabo em sua gestão pela sobrevivência. As coisas pioram quando sua companheira, Ligia (Mariana Nunes) abandona Raul. Ele conhece Cássia (Endi Vasconcelos), encarnando Cass, que já foi interpretada por Ornella Muti em Crônica de um Amor Louco 1981. E a partir desse evento Raul vai experimentando a bebedeira sem sexo, o companheirismo sem amor e claro, transformando isso em combustível para suas histórias.


A narrativa procura colocar regionalidade nas histórias de Bukowski, e nesse ponto eu creio que há um divisor de críticas, pois é possível que a proposta seja vista como correta, mas também como algo forçado, ao explorar as mazelas, marginalidade e pobreza como ponto alto da produção de Bukowski. Em todos os aspectos, creio que em parte é devido ao pouco ou nenhum conhecimento da obra de Bukowski. O fato é que o filme tem ritmo agradável, bem ao estilo dos contos de Buk, e eventos bem encadeados marcados pelas diferentes presenças femininas, muito embora perca o fôlego no trecho final, com diálogos teatrais.

Roney Villela está muito bem e entrega uma atuação mais que convincente, a ponto de conseguirmos enxergar ali um Chinaski/Serking ainda no vigor físico. Endir como Cass tem presença, eloquência nas falas e faz boa dupla com Roney.

A fotografia de Marcelo Martins Santiago é muito bem resolvida, em composições sem muitos movimentos de câmera, mas corretos nos enquadramentos.

Filme certamente vai agradar a quem está familiarizado com a obra de Bukowski e também aos que apreciam filmes com atmosfera marginal.



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