sábado, 16 de maio de 2015

Bullet Parker


Por Pachá
Escrito em 1969 bullet park é tido como trabalho mais completo de John Cheever (1912-1982). O retrato pintado por Cheever dos subúrbios americanos, lar do autêntico self made man, de famílias estupidamente felizes, tem nuances de loucura latente. 

Paul Hammer se muda para bullet park determinado a assassinar o filho de Eliot Nailles. Com narrativa primorosa Cheever mostra o quanto é válida a máxima de que o processo é o que importa de que os meios contam mais que o fim. O processo para justificar a decisão de Hammer é o grande atrativo do livro. Centrado na figura de dois indivíduos diametralmente opostos, Nailles um afetuoso pai e marido dedicado, cujo filho será o exemplo de salvação do mundo doente na percepção de Hammer um bastardo abandonado aos caprichos de fortuna de família, que nunca conheceu carinho materno ou paterno. Cheever desconstrói a normalidade dos ricos subúrbios americanos em final dos anos 60 sem maniqueísmo. 

Mesmo na aparente maçante narrativa na apresentação dos personagens de bullet park, somos fisgados pela curiosidade de como se dará tal virada, da loucura completa disposta a dar cabo de entediante rotina, casa e trabalho, jantares de negócios disfarçados em sociabilidade comedida, da reforma da sala de jantar, da pintura da cozinha no verão. São as pequenas coisas da família americana imersa no seu universo de liberalismo mentiroso do american way of life, que não hesita em estourar os miolos de centenária tartaruga porque esta invadiu o quintal e poderia machucar uma criança ou um cachorro. Do espanto ao ver um cartaz de protesto que traz as palavras caralho (dick), buceta, (pussy) etc... Mas isso são apenas pequenos exemplos que Cheever nos dá para justificar o fim o qual vai se apegar um dos protagonistas para aplacar sua insanidade. 

E no contraponto entre os dois universos, Hammer e Nailles, há similaridade pois em ambos esconde-se a patologia de uma sociedade fraturada, cindida pelo poder de compra, da felicidade volátil. 

Os personagens de apoio, mãe de Hammer e o curandeiro são exemplos de fugas de uma realidade absorta no materialismo desenfreado da glória efêmera. Na figura da mãe de Hammer a visão do movimento hippie do desapego material e desejo de conhecer o mundo. No curandeiro a felicidade centrada na subjetividade da fé.

O livro ganha estrondoso ritmo do meio para fim, justamente na composição do personagem Hammer e seus motivos para salvar a humanidade.





John Cheever

OBRAS:
The Way Some People Live (1943)
The Enormous Radio and Other Stories (1953)
Stories (with Jean Stafford, Daniel Fuchs, and William Maxwell) (1956)
The Wapshot Chronicle (1957)
The Housebreaker of Shady Hill and Other Stories (1958)
Some People, Places and Things That Will Not Appear In My Next Novel (1961)
The Wapshot Scandal (1964)
The Brigadier and the Golf Widow (1964)
Bullet Park (1969)
The World of Apples (1973)
Falconer (1977)
The Stories of John Cheever (1978) – Prêmio Pulitzer na categoria ficção em 1979.
Oh, What a Paradise It Seems (1982)
The Letters of John Cheever (edited by Benjamin Cheever) (1988)
The Journals of John Cheever (1991)

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