Por Pachá
Três diretores, três histórias sobre a mega metrópole Tokyo. O resultado são narrativas surreais, bem ao estilo Borges e Cortazar, onde o protagonista é uma cidade que molda e é moldada pelo seu tecido social.
Interior design
Michel Gondry
Michel Gondry explora o disputado espaço da cidade, um dos metros quadrados mais caro do planeta, e a fábula dos fantasmas das frestas é sensacional, e confere o estilo surreal de sua história. O casal Hiroko (Ayako Fujitani) e Akira (Ryô Kase) estão tentando se instalar em Tokyo, mas tem pouco recurso financeiro, e são ajudados por uma amiga, que os aloja em seu apartamento até que o casal consiga moradia. As coisas começam a fugir do controle, e a partir dai se instala um senso de utilidade, pois a cidade demanda essa questão, imposta por um capitalismo pungente. O casal entra em crise, e Hiroko se vê como uma espécie de ancora que impede o progresso de Akira.
Se sentir útil em uma sociedade no qual o consumo se choca com milenar cultura, desencadeia em Hiroko um sentimento de afastamento e um visão inanimada de si próprio, e se em Kafka a barata encarna o fim mais asqueroso, a cadeira para Gondry é algo mais do que útil, é milenar, cultural e civilizatório, e assim se dá a metamorfose de Hiroko que se transforma no fantasma da fresta em forma de cadeira, e que não poderia cair em melhores mãos, a de um professor.
A condução da história tem nuances poética, com belíssima fotografia e interpretações, com discreta critica ao estilo de vida de megas metrópoles, o que de certa forma é universal, mas que no caso ocidental tem uma variável cultural de tradições milenares.
👍👍👍👍
Merde
Leos Carax
Carax vai buscar nos animes e desenhos de monstros que devastam Tokyo, e sempre surgem da radiação e lixo industrial, inspiração para "o mostro do esgoto"(Denis Levant), uma figura desprovida de todo e qualquer apego material e com aparência grotesca. Creio que há também nesse curta critica ao consumo, não a toa a interação do mostro se dá em calçadas repletas de vitrines de grifes onde os japoneses exibem e desejam novos status.
A fotografia sem dúvida chama atenção, e quando há a prisão do mostro, as composições da fotografia lembram Caravaggio. A narrativa é non sense, ou com profunda abstração, característica que vai marcar o cinema de Carax, que em 2012 lança Holly Motors. Os diálogos são poucos, e nisso em minha percepção retrata o obstáculo da língua oriental versus ocidental. Há também uma espécie de criador e criatura, no qual o primeiro não percebe sua criação uma vez que é o avesso daquilo que o criador se imagina ou se vê, uma consequência de sua existência e portanto sumariamente negado.
👍👍👍
Shaking Tokyo
Bong Joon Ho
O diretor sul coreano opta por uma narrativa que explora as relações humanas, e ainda sim surreal, e mesmo amparada em um fenômeno tipicamente japonês, que é o hikikomori, pessoas que se isolam, em suas casas ou apartamento, com intuito de evitar qualquer contato com outros humanos, ainda sim é um algo no mínimo estranho para orientais, imagina para o ocidente.
Um homem (Teruyuki Kagawa) narra sua existência nos últimos 10 anos de isolamento, que é alterado quando um fato inusitado o coloca em contato com uma entregadora de pizza (Yû Aoi). A condução de Joon Ho é primorosa, elegante com alto poder de empatia por personagens dos quais nada se sabe, a não ser do protagonista.
Em minha percepção a melhor história das três. É curioso, um pais que mata baleias, tenha uma termo para designar pessoas que para o ocidente são vistos apenas como anti social, reclusa, é claro que a reflexão, é imersa na mais profunda abstração, mas que em minha percepção reflete esse choque entre o moderno e o milenar, algo que de alguma forma foi explorado, mesmo que de forma sutil pelos três diretores.
👍👍👍👍👍
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