sexta-feira, 19 de junho de 2020

Ex Drummer


Por Pachá
Os seres a margem da sociedade estão a mercê e indissociáveis de suas pulsões de morte quando a sobrevivência transforma a vida em um grande absurdo, ainda que este seja lastro para suportar o peso da existência. Em Oostend (Bélgica) três deficientes decidem montar uma banda para participar de uma batalha de bandas, mas ainda não tem um baterista, esta é a premissa. Cada individuo, componente da futura banda, é apresentando, a começar pelo baterista, Dries (Dries Vanhegen), um escritor, famoso, e como que dotado de sua voz própria de escritor narra a história como uma espécie de Deus, aquele narrador que tudo sabe da história em progresso e pregressa.

"Eu realmente não sei. Eu acho que quero sair do meu mundo feliz. Descer às profundezas da estupidez, feiura, obtusidade, infidelidade e falsidade. Prender-se à vida dos perdedores, mas sem pertencer a esse mundo - e sabendo que sempre posso voltar ao meu próprio mundo".






A narrativa é uma agressão para o mundo politicamente correto, quando é recheada de xenofobia, misoginia, homofobia, machismo que tem como irmã a violência, já na apresentação temos a certa medida desse cruzamento. O roteiro é bem estruturado, com uma trama que se parece com um livro em construção ao mesclar a linguagem cinematográfica com a literatura, ainda que de forma sutil, mas que não perde o ar de video clipe, mas ainda sim o resultado é bem bacana em conjunto com fotografia, movimento de câmera e atuações ensandecidas, lembram os filmes do troma, desenvolve um dinâmica que nos faz ter a certeza que estamos diante de um filme fora da curva, com uma pegada punk rock na qual a mensagem é, no future . A percepção é que Koen fez uma mistura de Trainspotting com the commitments, com trilha sonora igualmente matadora. A cena da batalha das bandas, é muito bem filmada.


O filme é desconfortável, com humor ácido, cru no que tange as relações humanas, nos lembrando que a linha entre o animalesco e humano é tênue, e basta alguns gatilhos para romper essas linhas, um dia ruim, a negligência de afeto, o fracasso, tudo isso está implícito nos personagens, que fazem essa digressão no ato final, que justifica a segunda metade do filme, quando a a narrativa parece se perder, e sobra violência gratuita, mas eis que surge o deus ex machina, creio que o ex drummer, é uma referência a este, e uma vingança do roteiro, já que bateristas quase nunca são bons lideres de bandas, mas aqui ele encarna aquele que vai realizar desfecho final, e até que é satisfatório e bem ao estilo grego.


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