domingo, 1 de abril de 2012

São Bernardo

Por Pachá
São Bernardo é para muitos estudiosos de Graciliano como obra maior desse escritor. A estrutura narrativa tem proeza de usar linguagem coloquial, nos pensamento de um homem embrutecido, Paulo Honório, sem ferir o dito “português culto”. A linguagem é enxuta sem muitas divagações descritivas, mas sem perder coesão ou profundidade. Há sim preferência pela mensagem direta sem abuso de linguagem, sem maiores preocupações poéticas, mas preferência pela analise psicológica nos conflitos dos personagens. Essa vem a ser característica marcante no estilo de Graciliano, escrita sem enfeites, direta e precisa.

Paulo Honório é homem sertanejo de natureza rústica que nunca conheceu mãe ou pai. Foi criado por doceira. Com determinação de bicho catingueiro decide obter fazenda que trabalhou quando moço. Após vagar pelo sertão de Alagoas negociando tudo que lhe rendesse economias, parte para Viçosa terra natal e onde se encontra objeto de desejo, fazenda São Bernardo. Em seguida arquiteta plano pra tomar posse de São Bernardo, se aproveita da inépcia de Padilha herdeiro da fazenda. Através de empréstimos e aconselhamentos de interesse duvido, leva herdeiro a ruína, que não vê outra saída se não entregar São Bernardo a Paulo Honório, seu principal credor.

O meu fito na vida foi se apossar de São Bernardo, construir esta casa, plantar algodão, plantar mamona, levantar a serraria e o desencaroçador. Introduzir nestas brenhas a pomicultura e a avicultura adquirir um rebanho bovino regular.”

O livro inicia pelo final, temos Paulo Honório narrando trajetória de Paulo Honório, viúvo, solitário, tentando entender sentido de como e porque se tornou bruto, avaro, insensível. Em seguida narrativa entra na digressão do personagem que remonta seus passos tal qual ele se lembra. Paulo Honório vai nos apresentando Paulo Honório com marcante realismo critico de um herói problema, que de inicio não aceita o mundo, os outros e por fim não aceita a si mesmo.

Escrito em primeira pessoa, Graciliano prima pela analise das relações humanas, entre psicológico e social e traça belíssimo retrato do sertanejo, e se em vidas secas, disseca caatinga pelos olhos de Fabiano sertanejo de alma agreste sem instruções, em São Bernardo ele ascende Paulo Honório “aprendi a aritmética para não ser roubado além do permitido.” Dar-lhe vontade e astucia de homem de negócios e o embrutece igualmente, pois a alma é a mesma, agreste, sofrida.

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