quarta-feira, 18 de julho de 2012

Ingmar Bergman parte I

Por Pachá
Entre os meses de maio e junho de 2012 aconteceu no CCBB do Rio de Janeiro a mostra Ingmar Bergman que contou com apresentação de 50 filmes, palestra e aulas.

Falar sobre o cinema de Bergman não é tarefa propriamente fácil, dado que seus filmes são repletos de profunda subjetividade que requer do espectador não só dedicação, mas uma entrega total, uma predisposição para mergulhar no universo de Bergman. Os temas por ele abordado, ainda hoje caro a maioria dos mortais, estão imerso de simbolismo, das indizíveis angustias da humanidade, morte, finitude, sexualidade, solidão, suicídio, sem contar no alto teor biográfico e como mesmo disse Bergman "Filmes são como pessoas, algumas gostamos outras não e outras apenas nos mostramos indiferente" e não mais importante, mas igualmente atento ao olhar de Bergman há sua critica ao poder coercivo das instituições, como escola, igreja e desconstruções de outras como família e casamento.

Abaixo pequena explanação sobre os filmes assistidos na mostra, alguns vistos pela segunda vez. As escolhas dos mesmos estão muito influenciado pelas três aulas ministradas por Sergio Rizzo.

A carreira de Bergman se dá no teatro e sua produção teatral é pelo menos três vezes maior que suas produções cinematográficas, e olha que sua filmografia (cinema e TV) é considerável, basta ver as 50 obras da mostra que enfatizou o cinema com poucas produção para TV. Bergman inicia sua carreira no cinema logos após a segunda Guerra Mundial, em 1946 escreve roteiro para o filme Hets (Tormento) de Alf Sjoberg que conta o dilema de jovens estudantes suecos tiranizados por professor de latim. O filme é uma critica ao método de ensino que insiste alguns professores, que através da tirania pretendem formar cidadãos prontos para a vida e a conivência das instituições com tais práticas. Bergman também foi responsável pela direção da cena final. O filme recebeu palma de ouro em Cannes no mesmo ano. 

É bom frisar que um dos motivos do florescimento de constantes produções do cinema sueco se dá pelo fato de que o pais manteve neutralidade durante conflito da segunda Guerra Mundial, Bergman é da quarta geração de cineastas e portanto um mantenedor da cultura desse cinema. O grande estúdio sueco Svensk Filmindustri por onde Bergman e diretores anteriores a ele começaram, é até hoje um dos grandes estúdios da Europa responsável pela distribuição dos filmes nórdicos e grande parte do cinema europeu.

KRIS
No mesmo ano 1946, Bergman estréia como diretor no filme Kris (Crises) com roteiro do próprio, inspirado em texto teatral de Leck Fischer. De uma historia banal de costume, Bergman extraia a força do poder coercivo das convenções sociais. O filme não foi muito bem recebido na Suécia o que levou a demissão de Bergman dos estúdios SF.


PRISON
Em 1949, e já de volta SF Bergman filma seu sexto filme, Prisão, com roteiro original, e a partir dai o cinema de Bergman passa a ter a assinatura de Bergman. Os temas que irão permear sua obra, estão todos presentes em Prisão, sexualidade, o silencio de Deus, os relacionamentos, a família e aspectos biográfico, este explicito quando Thomas encontra um cinematografo... E claro sua pegada teatral, embora Prisão tenha roteiro original do próprio Bergman é possível ver em toda estrutura do filme uma forte influência do também sueco Strindberg na obra inferno. O próprio tema proposto pelo professor de matemática do diretor Martin nos remete ao CORAM POPULO de Creatione et Sntentia Mundi (Mistério), no qual há embate entre Lucifer e Deus. Lucifer como salvador do homem por lhe trazer a verdade, e Deus malévolo criador que tem na humanidade brinquedo para Sua diversão. Em prisão correm duas historias, a do filme que Martin está rodando, que pouco é mostrado e uma segunda historia  sobre envolvimento do casal Sofi e Thomas com a prostituta Brigitta e seu cafetão, e nos dilemas dos dois casais se faz o inferno na terra. Que é a proposta inicial ou seja, uma meta filme.

Prison é um filme de fortes diálogos repleto de uma simbologia que torna o filme atual em seu questionamento sobre a difícil tarefa de viver em sociedade.

Na década de 50 Bergman dirigiu 13 filmes, com média de mais de um filme por ano. Muito se fala sobre o restrito publico do diretor, mas creio que quando comparado com publico americano, sim é verdade. Bergman nunca dirigiu nos EUA, mesmo quando vários diretores e atores foram para Hollywood Bergman permaneceu na Suécia e quando muito filmava na Alemanha. Em seus momentos mais profícuos chegou escreveu roteiros em três dias, e sem mencionar as várias peças encenadas nos intervalos. Basta saber que entre 56 e 57 dirigiu duas obras primas, Morangos Silvestres e Sétimo Selo.

JUVENTUDE
Em 1951 Bergman leva as telas um filme que mexeu com o puritanismo reinante. Em Hollywood  códigos e leis foram estabelecidos para controle do teor sexual dos filmes. E juventude continha para época, diálogos ambíguos, recheados de apelos sexual que desencadeou polemicas sobre a libertinagem nas telas. mas apesar das polemicas, o filme é de um lirismo muito próximo dos românticos franceses. Narrado em flashback de uma bailarina de 28 anos, Marie interpretada por Maj-Britt Nilsson que em sua adolescência viveu um inocente amor de verão com Henrik (Biger Malmsten)... Eram noites de suaves caricias, quando dormíamos não tínhamos tempo de dormir...
A transição da juventude para vida adulta é bem pontuada, e o dialogo no camarim entre Marie e o mágico, aborda de forma magistral um dos temas preferidos de Bergman a finitude do ser. Os críticos mais aprofundados na obra de Bergman afirmam ser este o filme onde o diretor alcançou sua maturidade.

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