Por Pachá
O filme de Luiz Sérgio Person está imerso na sufocante condição existencial do homo faber, em plena euforia brasileira com o boom da indústria automobilística entre os anos 1957 e 61 onde Brasil se encontrava sob presidência de JK. A revolta revestida de conformismo do personagem Carlos muito bem conduzido pela interpretação de Walmor Chagas, um recém formado desenhista industrial que arruma seu primeiro emprego na linha de montagem da Volkswagen. Em sua busca para dar sentido aos dias e noite, ele se afunda no emprego, arruma amantes, mas ao final o que se tem é alargamento da distancia entre ele e o mundo a sua volta.
No dilema existencial de Carlos há critica ao capitalismo que enxerga na América Latina oxigênio para não só perpetuar capital, mas engrossar gordos lucros as custas de acordos onde a população arca com pesadas cargas; condição insegura de trabalho, direitos adquiridos e negados em prol de lucros e exploração de praxe que países latinos sofrem desde primeiro contato com Europeu. Não falta, ainda que discreto, olhar para o arraigado jeitinho brasileiro de se dar bem, quando Carlos em conluio com Arturo (Otelo Zelloni) favorece a compra das engrenagens fornecidas pela fábrica de Arturo.
De explicito flerte com cinema neorrealismo italiano, a estrutura de São Paulo S/A é de vai-e-vem entre a realidade de Carlos e a do pais que anda a largos passos no processo de industrialização iniciado pelo governo Vargas. E a direção de Person tem o cuidado de situar essas duas fronteiras mesmo com inversão da ordem cronológica, no qual uma realidade flutua na expectativa do pais de dias melhores mesmo que o retrato do momento seja desolador e na realidade do personagem que sabe que por mais que se esforce e alcance o tal sucesso, emprego, casamento, filhos, por fim será um derrotado. Dilema muito bem personificado na personagem Hilda (Ana Esmeralda) que suicida-se ao constatar o nada a que foi tragada com morte do marido, nos dizendo que falharemos na mais perfeita comunhão, como no mito de Sísifo. E dessa percepção nasce a resignada revolta do personagem que em crise tenta a desesperada fuga de tudo quando abandona emprego, mulher e filho.
O elenco de São Paulo S/A é bem entrosado com proposta de criar os lastros para revolta do herói, Ana (Darlene Glória) como representante da dispersão transvestida de diversão fácil que também proporciona sofrimento a curto prazo. Arturo a encarnação do capitalismo onde os fins (lucros) justificam os meios. Luciana (Eva Wilma) porto seguro das convenções sociais, da moça desenhada para o lar e filhos.
Com disfarçada agonia Carlos sintetiza o desepero do homem moderno. SP S/A é um filme que merece atenção do espectador. E ao lado de Um Homem Sem importância capta momento particular de um pais imerso em dicotomias.
Com disfarçada agonia Carlos sintetiza o desepero do homem moderno. SP S/A é um filme que merece atenção do espectador. E ao lado de Um Homem Sem importância capta momento particular de um pais imerso em dicotomias.
Filmografia
1974 - Vicente do Rego Monteiro
1972 - Cassy Jones, o Magnífico Sedutor
1968 - Panca de Valente
1968 - Trilogia do Terror (episódio: A Procissão dos Mortos)
1967 - O Caso dos Irmãos Naves
1967 - Um Marido Barra-Limpa
1965 - São Paulo, Sociedade Anônima
1963 - II palazzo Doria Pamphil
1963 - L'ottimista sorridente (curta-metragem)
1962 - Al ladro (curta-metragem)
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