Por Pachá
- It´s ok, ok... diz mariner ao garoto na casa onde matam Bin Laden (estamos assassinando seus pais e parentes, mas está tudo bem).
- … and you guys…You gonna kill him to me… (Maya imperativa)
- I don´t care if your people are sleeping or not… (Maya comprometida)
O filme a hora mais escura (Zero Dark Thirty) peca, em minha percepção, por exageros no estilo gerencial americano, agressivo, Pitt bull. Focado nos resultados onde os meios justificam os fins. E quem encarna o self made man de saias é Jessica Chastain impondo o estilo Maya de conduzir investigações para capturar Bin Laden e punir os terroristas do 11/09. Nada que a diretora Kathryn Bigelow mostre nas longas três horas de a hora mais escura não tenha sido mostrado em outros filmes do gênero e até mesmo em seu Guerra ao Terror. Sua narrativa tem imparcialidade duvidosa quando a todo momento isenta os EUA de qualquer culpa pelo atentados de 11/09, quando sabemos que o ódio pela politica intervencionista dos americanos é compartilhada por muitos países Árabes. O que também não justifica a morte de inocentes.
Maya e uma penca de outros agentes da CIA estão designados para localizar, prender e eliminar (sumariamente) os culpados da morte dos 3 mil mortos na queda das torres WTD (world Trade Center). Como forma de eliminar o mal pela raiz, o objetivo primeiro é “derrubar” lideres da al-Qaeda, mais precisamente Bin Laden apontado como grande mentor intelectual dos atentados. A tentativa de passar para o telespectador que as razões para; tortura, assassinato, violação da soberania do Paquistão e por fim a morte de Bin Laden é plausível e justificável é no mínimo equivocada, pela mesma razão apontada linhas cima, falta de contexto histórico. Com discurso de que na guerra ao terror tudo é possível, escamoteado questões históricas, está certo que não é proposta do filme, mas em 3h de cadeira esperava bem mais que drama de uma investigadora tentando se firmar no competitivo mundo dos homens durões. Dentro de uma visão social o filme tem seus méritos quando mesmo de forma superficial explora o dia a dia da comunidade árabe-islâmica, ruas, mercados, costumes, bem como o medo dos ocidentais, principalmente americanos em circular por suas ruas.
Tecnicamente o filme é mais que correto, ângulos, enquadramento, luz confere a fotografia atmosfera de tensão que, creio, era objetivo do roteiro. Os ataques que ocorrem no hotel e QG da Cia são bem resolvidos, com nítida impressão de colocar espectador na cena, mesmo quando há certa previsibilidade. As interpretações estão em comunhão com roteiro, embora carregadas de excesso do “eficiente gerente líder” disfarçado de patriotismo exacerbado, por vezes é irritante com diálogos do mais puro clichê que te leva a questionar, principalmente no personagem de Maya o caráter ficcionista da trama que tenta, nesse ponto, impregnar de realidade a ficção. A cena em que Maya derrama lágrima, que não sabemos se é pela missão cumprida ou libertação de pesada cruz (que ela passou todo o filme se orgulhando, vangloriando até, de carregar) é de uma incurável banalidade. O elenco conta com nomes talentosos e por vezes pouco explorado; Mark Strong; Edgar Ramirez, Reda Kateb...
No mais o filme também servirá de ótimo espelho para mundo corporativo que pegará estilo Maya como exemplo do líder eficiente, custe o que custar. Nada que algumas empresa já não venha praticando na incansável busca por resultados, mas com imagens materializadas na tela é sempre mais fácil e convincente. Por outro lado o filme tem notoriedade por deixar claro, ao menos para grande maioria de americanos, a posição dos EUA quanto a sua política de combate ao terrorismo.
Assim como os judeus não deixam o mundo esquecer as atrocidades do nazismo, Hollywood tenta fazer o mesmo com 11/09. Mas certamente há formas menos piegas de trazer o passado para o presente.
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