sábado, 3 de agosto de 2013

Redoble por Rancas (bom dia para Defuntos)


Por Pachá
Em Redoble por Rancas (Bom dia para Defuntos) Scroza relata em forma de romance o massacre entre os anos 50 e 60 da pequena Cerro Pasco por uma gigante empresa de minério americana. Em sua estrutura narrativa Scorza disseca de forma crua e poética o neocolonialismo latifundiário pregado pelos agentes mais ferozes do capitalismo, esse organismo vivo que não mede esforço, nem sacrifícios humanos para garantir lucros e perpetuação do capital, a corporação.

A historia amparada em fatos verídicos, narra a luta de pequeno povoado de camponeses encrustado nas alturas dos alpes peruanos em luta para manter terras habitadas pelos seus antepassados desde tempos pré-colombianos. A demonstração de poder das autoridades locais, que usurpam terras e tiram vidas como iradas divindades é muito bem arquitetada na prosa de Scorza que alia de forma contundente historia politica, reforma agrária, ironia entre o trágico e o absurdo, bem como regionalidade de um povo a mercê dos mandos e desmandos da elite local.

Héctor Chacón (olho de coruja) protagonista do livro ficou preso por onze anos em prisão no meio da floresta amazônica peruana por se revoltar contra as injustiças cometidas contras seu povo, suas terras. A luta solitária de Hector não passou despercebida ao inquieto e engajado escritor peruano com a causa camponesa e formação dos sindicatos rural que a romanceou, mas sem perder o cunho reflexivo a cerca da condição da América Latina em busca do desenvolvimento diante do imperialismo. Manuel Scorza sempre embutiu em sua poesia, romances o elemento politico contestador das injustiças contra seu povo, contra a sua pátria.


Passagem de Bom dia para Defuntos...

“Então, vocês querem criar um sindicato?" "Se o patrão permitir", respondeu Félix. "Quantos estão de acordo?" "Treze, senhor." "Vá buscá-los. Quero falar com todos.". Na vastidão da memória, ninguém se lembrava de que peão algum tivesse penetrado na casa grande. Cobertos por seus ponchos, os camponeses sentiam que se excediam, mas não tiveram remédio senão entrar. "Que desejam, meus filhos?" Perguntou Don Migdonio afavelmente. Silêncio. "Não se constranjam. Não me oponho ao sindicato. Não, não me oponho. Pelo contrário, eu os felicito. Vivemos uma época de mudanças. Todos queremos o progresso. brindemos ao sindicato! "A um sinal do fazendeiro, um criado entrou na sala com uma garrafa e copos para todos."Vou brindar com o copo vazio. É que ontem me excedi. Saúde, rapazes!", bradou jovialmente Dom Migdonio. Jaramillo foi o primeiro a desabar. Tombaram outros três fulminados e os demais revolveram-se na agonia de um retorcimento de tripas."Filho da puta", conseguiu dizer Félix antes de borrar-se com as tripas queimadas pelo veneno. O juiz, doutor Francisco Montenegro e o sargento Cabrera chegaram às seis horas da tarde escoltados por um piquete de guardas civis. Fecharam-se no escritório com Don Migdonio. O que o juiz, o fazendeiro e o sargento discutiram permanece até hoje em mistério. Para desmentir testemunhas que naquele distante ano de 1903 juraram ter visto os três sairem abraçados, rindo, os historiadores oficiais exibem uma prova irrefutável: um comunicado oficial das autoridades, informando que os catorze camponeses tinham sido fulminados por um "enfarte coletivo"

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