domingo, 25 de outubro de 2015

Hard to be a God


Por Pachá

O filme Russo de Aleksei levou mais de uma década para finalização, 8 de filmagens e 5 de montagem e o próprio Aleksei não viu a obra pronta pois morreu em 2013 no decorrer da montagem. O filme é tido como ficção cientifica, até porque é baseado no livro sci-fi dos irmão Strugatsky publicado em final dos anos 70.

Técnicos do Instituto de Historia Experimental da Terra conseguem realizar uma dobra no tempo e alcançar um planeta semelhante a terra há 800 anos, ou seja, no período medieval que no caso de Hard To be a God é justo chama-lo de idade das trevas. Esse viajante do tempo é apresentado logo nos primeiros minutos do filme. E partir dai é uma profusão de imagens e diálogos que de tão onírico e escatológico pode parecer enfadonho, mas há uma um toque documental, em retratar o dia a dia desse planeta. 

A História é uma ciência ideográfica o que quer dizer que trata de eventos únicos e portanto incapazes de serem reproduzidos, ao contrário das ciências nomotéticas onde as teorias e teses podem ser postas a prova em experimentos que possam se repetidos mediante metodologia aplicada. O que deixa uma curiosidade nesse departamento de Historia experimental, pois é disso que o filme trata, de tentar vivenciar a experiência de um evento único, transformando esse espaço tempo, no caso o período medieval, em um grande laboratório, e assim como os cientistas se tornam deuses em seus laboratórios, nosso protagonista é tido como tal, dai o o titulo, é difícil ser um deus.


As quase três horas de filme é um passeio pelos costumes medievais, chuvas torrenciais, lama, fezes, escravos e desconhecimento da higiene é captado pela câmera que adentra corredores, de castelos, becos e ambiente campesino do feudo estudado. Os diálogos sugere certa desconexão com o mundo inteligível, o que já é um anacronismo da narrativa, pois muitos de nossos costumes vem do período medieval e foram se adaptando até o dias atuais. Mas é preciso entender que se trata de um planeta alienígena, e só sabemos isso pela sinopse o que confere a narrativa certo deslize no desenrolar da tramam.

As interpretações não é muito fluída, no sentido de empatia ou objetivos das personagens, creio que nem possam ser avaliadas já que todos parecem estar em uma espécie de histeria coletiva, confusos diante de alguma catástrofe iminente. Outro ponto que salta literalmente aos olhos é a câmera sempre muito próximo, como uma câmera-espiã e aliada a grandiosidade dos cenários e figurino, confere grande espetáculo visual. E creio que o grande mérito do filme é o esmero com a fotografia desde a escolha do preto e branco o que evita dispersão do olhar, uma vez que as tomadas longas e tão repletas de objetos (detalhes) e pessoas seriam por demais poluída se apresentada em cores, até os movimentos de câmera que conferem certo onirismo em seu deslizar pelos espaços.

Os conflitos existentes durante os 170min de filme passam ao largo de qualquer expectativa dos altos e baixos das narrativas convencionais, e dai uma tensão sempre linear do personagem ao tentar absorver, literalmente, com todos os sentidos essa atmosfera, não a toa ele está sempre bebendo e beliscando comidas de aparência repugnante ou mesmo cheirando tudo que passa pela sua frente numa espécie de experiência histórica sensorial de sabores e cheiros. E para os fans de GoT ou filmes épicos da idade média não há batalhas como era de se esperar numa época de santos e guerreiros. Ao final tudo que fica é uma sensação de que tudo no filme foi tratado ao extremo, ao meu ver, outro anacronismo dos realizadores. Sons, sujeira, ambientes tudo é demasiado superestimado, talvez pela difícil conexão diégetica entre esse mundo analisado e o mundo de fala do historiador viajante.

O esmero técnico de produção, arte e fotografia é patente, ainda que seja um filme difícil, mas que tem seus méritos, e creio ser válido assisti-lo mais de uma vez.

Legendas PtBr





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