quarta-feira, 30 de outubro de 2019

François Ozon - Maratona


François Ozon (1967 - ) é considerado um dos mais fecundos e importantes realizadores do cinema francês. Os temas abordados em seus filmes são carregados de existencialismo que as vezes esbarra em um preciosismo diletante, não a toa ganhou destaque ao adaptar para o cinema a obra de Fassibinder, Gotas d'agua em pedra escaldante e logo em seguida, a peça Boulevard de Robert Thomas, 8 mulheres, e com este ganhou os holofotes para além da França.

Antes de chegar ao primeiro longa, em 1988, realizou mais de uma dúzia de curtas metragem.

O cinema de Ozon é pautado pela sexualidade, questões familiares, escapismos ou fugas do real com humor seco, amargurado até.




Gotas d'água em Pedra Escaldante - 2000


Berlin International Film Festival, 2000: Melhor Filme
New York Lesbian and Gay Film Festival, 2000: Melhor Filme


Gotas d'Água sobre Pedras Escaldantes é uma peça de Rainer Werner Fassbinder, reconhecido pelo cinema dos sentimentos, mas cujo excesso é sempre pontuado pela inércia de seus personagens.

Asim como o teatro, o filme tem as transições em atos e pelo fato de se passar em um único ambiente, um apartamento reforça ainda mais a sensação de estar assistindo a uma peça.

Fassbinder tem uma visão do amor, que nos remete ao reino da dominação, subjugação que aprisiona, fere e deixa marcas.

A apresentação dos personagens é muito bem trabalhada por Ozon. Leopold (Bernard Giraudeau), um cinquentão bem descolado, conversa com Franz (Malik Zidi), um jovem mancebo. E o que parecia previsível, um romance gay, se torna ácido, doloroso, cômico e por fim trágico, e nessa profusões de emoções que Ozon vai colher dos atores interpretações no limite do exagero, e nesse reside a segurança e maestria da direção. Anna (Ludivine Sagnier) a cara da inocência, presa fácil para Leopold. Véra (Anna Levine) a prova de que o amor, assim como o vício, cria uma busca por uma memória que se instalou e como ela o calvário para revive-la. A cena final em que Véra tenta abrir a janela, tem relação com uma fera aprisionada, é teatro, mas ainda sim uma cena poderosa.

Em minha percepção é um dos melhore filmes de Ozon...




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8 Mulheres - 2002

12 indicações ao Cesar: Melhor Filme, Melhor Diretor. Melhor Atriz (Fanny Ardant e Isabelle Huppert).
Melhor Atriz Coadjuvante (Danielle Darrieux).
Melhor Revelação Feminina (Ludivine Sagnier).
Melhor Fotografia. 
Melhor Desenho de Produção. 
Melhor Trilha Sonora. 
Melhor Figurino. 
Melhor Som e Melhor Roteiro.

Ganhou o Urso de Prata de Contribuição Artística, no Festival de Berlim.

Foi o representante francês ao Óscar de melhor filme estrangeiro. Particularmente, não me agrada musicais, mas pra ver em cena, Fanny Ardant, Catherine Deneuve, Isabelle Huppert, e de quebra a Emmanuelle Beart, vale o esforço. O roteiro é baseado na peça de Robert Thomas que é uma trama de assassinato bem ao estilo Agatha Christie que Ozon optou pelo gênero comédia. 

Toda história se passa dentro de uma mansão, no qual o provedor Marcel é assassinado, e claro o assassino é uma das oito mulheres que orbitam a vida de Marcel. No processo para desvendar o assassino, que será feito por meio da relação que cada uma dessas mulheres tinham com Marcel. 

A fotografia capta bem o ambiente da mansão, mas com ângulos clássicos e pouco ousados. A direção de arte, competente, cria um ambiente contrastante realçando os personagens que estão em constante atrito desencadeado pelas suspeitas de assassinato. 






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Sob Areia - 2000

Recebeu 3 indicações ao César, nas seguintes categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Atriz (Charlotte Rampling).


Recebeu 3 indicações ao European Film Awards, nas seguintes categorias: Melhor Diretor, Melhor Atriz (Charlotte Rampling) e Melhor Atriz - Voto Popular (Charlotte Rampling).

A trama deste suspense está centrado em Marie (Charlote Rampling), em uma interpretação irretocável, e muito da elegância do filme é devido a sua atuação. 

Marie sai em férias com Jean (Bruno Cremer), e  numa manhã na praia, Jean desaparece. Após 25 anos de casamento, Marie não consegue conceber que seu marido possa ter cometido suicídio. E neste processo, de entender o que houve, e aqui reside a estratégia cartesiana de Ozon, de esmiuçar não o luto de Marie, mas uma culpa disfarçada em alucinações que Marie tem, ao pensar que ainda vive com Jean, ao passo que essa negação de uma casamento infeliz, desencadeia um processo de insanidade justamente por achar que Jean cometeu suicídio por estar entediado no casamento, que Marie acreditava ser perfeito.

Ao final, a percepção que nos sobra é que o filme parece ter sido escrito sob medida para Rampling, dado a sua interpretação, não fica qualquer dúvida de que ela é a alma do filme, que tem uma história banal, e pode ser resumida em uma mulher que se perde ao perder o marido, e a personagem deixa claro, - Eu sempre dediquei minha vida ao Jean. A perda do alicerce e norte de Marie, é captada com certa elegância na rotina do casal, que tomamos conhecimento nas alucinações fantasmagóricas de Marie e depois quando ela, em gesto mais intencional do que condicional, tenta reviver rotina que tinha com Jean com seu amante.

O filme vale mais pela atuação de Charlote Rampling do que pela trama em si.







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A Beira da Piscina - 2003

Indicado à Palma de Ouro, no Festival de Cannes em 2003.
Exibido na Mostra Panorama, do Festival do Rio em 2003.


A segunda parceria com a atriz Charlotte Rampling rende um suspense bem construído amparado sobretudo na interpretação de Rampling, que vive Sarah Morton uma escritora de livros policias, cujo personagem detetive Dowell precisa se reinventar.

Sarah aceita a proposta de seu editor, John Bosload (Charles Dance) para passar uma temporada em sua casa na França, onde Sarah poderá escrever mais uma aventura de Dowell.

De maneira muito sutil, o filme é permeado por sugestões entre o que se vive e o desejo de viver e neste a imaginação é senhora absoluta, na relação entre Sarah e Julie (Ludivine Sagnier), a filha de John que aparece sem avisar para bagunçar o processo criativo de Sarah, que tem várias manias e hábitos. Embora explicitamente incomodada com o estilo de vida de Julie, Sarah acaba se apropriando disso para inserir em seu romance, e a partir dai criar uma cumplicidade que só um assassinato pode tecer.


O desfecho termina onde começa, na sala do editor, deixando a trama imersa nos devaneios de Sarah, que alias é combustível para criatividade, e Sarah parece muito a vontade nesse terreno.




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